Julho Amarelo: Casos de hepatites ainda têm incidência alta em todo o mundo

Relatório recente da OMS apontou que a maioria dos casos são de hepatites dos tipos B e C; professor de Medicina explica os tipos da doença, que é abordada durante a campanha Julho Amarelo

Publiciado em 05/07/2024 as 10:00
Divulgação/Prefeitura de Urupês-SP

Um relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) chama a atenção para a incidência de casos de hepatites virais em todo o mundo. De acordo com a entidade, as doenças causaram cerca de 3,5 mil mortes por dia e 1,3 milhão por ano em um total de 187 países, sendo a segunda principal causa infecciosa de mortes no planeta. Desse total, 83% foram causadas pela hepatite B e 17% pela hepatite C. O estudo estima também que 254 milhões de pessoas viviam com hepatite B e 50 milhões com hepatite C em 2022, sendo a maioria de homens adultos com idade de 30 a 54 anos. E no mesmo ano, foram contabilizadas 2,2 milhões de novas infecções, contra 2,5 milhões em 2019.


Este é um dos contextos que envolvem a campanha Julho Amarelo, instituída no Brasil desde 2019, que prevê ações de prevenção e esclarecimento contra as hepatites virais. Tratam-se de infecções que atingem o fígado e provocam uma série de alterações e complicações, que de acordo com o tipo de vírus, podem ser leves, moderadas, agudas ou graves. Muitas vezes, os sinais da doenças são imperceptíveis para o paciente.


“O fígado é um órgão indolor e, na maioria das vezes, o paciente não percebe a hepatite até que ela já esteja avançada. Portanto, a campanha traz o alerta sobre a realização de exames que informam sobre a presença da doença, levando o paciente ao tratamento e muitas vezes evitando a morte”, destaca o médico gastroenterologista Frederico Santana de Lima, professor assistente do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit). Os exames citados, que fazem o diagnóstico das hepatites B e C, são por meio de testes rápidos e de exames de sangue complementares, que estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).


As hepatites podem ser provocadas por inúmeros fatores, como medicamentos, abuso do álcool, reações autoimunes e vírus. O tipo considerado mais comum e menos agressivo é o da hepatite A, cuja transmissão acontece pelo contato das fezes com a boca (oral-fecal) ou consumo de água ou alimentos contaminados. Em geral, ela não evolui para doença crônica e seus casos são mais comuns na infância. Segundo o professor, esse tipo só evolui para formas graves em apenas 1% dos casos, principalmente em adultos.


Por sua parte, a hepatite B costuma ser transmitida por relações sexuais sem uso de preservativo, cortes por objetos contaminados ou em transmissão vertical da mãe para o filho (quando não há detecção pelo exame pré-natal). “Ela pode ter um quadro agudo e uma parte crônica. Normalmente o caso agudo é feito repouso e tratamento sintomático apenas. Uma pequena porcentagem dos pacientes evoluem para um quadro crônico (que pode levar a cirrose hepática). Os casos crônicos são atualmente tratados com antivirais, especialmente o tenofovir e entecavir”, explica Frederico, ressaltando que assim como a hepatite A, a B pode ser prevenida com a aplicação de uma vacina, igualmente disponível no SUS.


O tipo mais complexo é o da hepatite C, que evolui de maneira lenta, sem apresentar sintomas. A transmissão mais comum acontece por meio do contato com seringas ou outros objetos perfurantes que estejam contaminados com o vírus. O médico relembra que, antigamente, sua transmissão também acontecia em transfusões de sangue, mas isso acabou depois que a realização de testes de detecção de hepatites em hemocentros passou a ser obrigatória, em 1993. “A hepatite por vírus C tende a cronificar, e não há vacina disponível. Por outro lado, seu tratamento médico é curativo. Em média de três a seis meses, o paciente tende a cura em 99% dos casos”, diz o professor da Unit.


A campanha também alerta que, caso a hepatite não seja detectada a tempo e nem tratada da forma correta, pode agravar os quadros de inflamação e complicações do fígado, que podem evoluir para a necessidade de transplante ou mesmo a morte. “Um quadro agudo de insuficiência hepática leva a icterícia, náuseas, vômitos. Podendo evoluir para desorientação e coma (em casos raros). As hepatites crônicas têm evolução mais lenta e inicialmente sem sintomas. Porém com o passar dos anos se desenvolve fibrose e posterior cirrose hepática. A cirrose hepática é uma doença grave que cursa com câncer hepático, ascite e hemorragia digestiva alta, dentre outros problemas”, afirma Frederico.


A “Julho Amarelo” foi instituída no Brasil pela Lei nº 13.802/2019 e tem o objetivo de reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle das hepatites virais. Ela prevê a realização de campanhas públicas de esclarecimento e de exames preventivos em todo o país.


Autor: Gabriel Damasio
Fonte: Asscom Unit, com informações da Agência Brasil e do Ministério da Saúde