Pesquisa desenvolveu métodos inovadores para redução de lactose no leite

Estudo realizado em universidades sergipanas permite ainda o reaproveitamento da proteína extraída em produtos à base da proteína extraída do soro do leite: métodos já foram patenteados e divulgados em uma cartilha

Publiciado em 01/07/2025 as 10:14

Uma pesquisa realizada por universidades sergipanas inovou no desenvolvimento de processos de extração de produtos derivados do leite, permitindo a obtenção e fabricação de produtos com baixo teor de lactose. Ela resultou na criação de duas tecnologias de extração que já são aplicadas na indústria de laticínios: a PIM e a SAB. O trabalho foi realizado entre 2019 e 2020 por alunos e professores de graduação, mestrado e doutorado da Universidade Tiradentes (Unit), em conjunto com o Instituto de Pesquisa e Tecnologia (ITP), o Instituto Federal de Sergipe (IFS) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). 

O projeto já tem uma patente depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), contemplando todo o processo tecnológico, desde a recuperação da lactose presente no leite até a obtenção de Whey Protein a partir do soro do leite, utilizando as tecnologias PIM e SAB. Ele também resultou na produção de uma cartilha informativa, publicada pela Editora Universitária Tiradentes (Edunit), que destaca a proposta de aproveitamento integral do leite com foco na valorização de subprodutos e na transferência de tecnologia como estratégia para promover inovação e sustentabilidade na cadeia produtiva de alimentos.

A pesquisadora Lorena Armando da Silveira, formada em Engenharia Química e atual aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP/Unit), foi uma das participantes do grupo responsável pela pesquisa, através de uma bolsa de iniciação científica. Ela explica que, em processos convencionais, a extração de componentes do leite é realizada por técnicas como filtração, centrifugação e coagulação, e que as metodologias desenvolvidas na pesquisa da Unit trouxeram duas inovações em relação ao processo convencional. 

A dos SAB (Sistemas Aquosos Bifásicos) envolve métodos de separação que usam duas fases líquidas, geralmente compostas por polímeros e sais específicos que permitem a separação seletiva da proteína e da lactose, além de usar a técnica de precipitação seletiva para favorecer a concentração proteica sem precipitar a lactose. Já a segunda usa os Polímeros Impressos Molecularmente (PIM), materiais específicos com colunas de adsorção que retêm seletivamente as moléculas-alvo, como a lactose, resultando em um leite com baixo teor do componente. 

“A partir desse leite, foi produzido um queijo tipo coalho adaptado às necessidades de consumidores intolerantes à lactose, seguindo um protocolo validado experimentalmente”, detalha Lorena, acrescentando que “é possível obter outros produtos lácteos com baixo teor de lactose, como queijos e bebidas lácteas”. Além de ampliar o acesso e as opções de produtos para consumidores com restrições alimentares, o estudo ainda abriu caminho para a recuperação e reaproveitamento da lactose extraída na produção de aditivos para os setores farmacêutico, alimentício e cosmético. “Considerando que o Brasil importa grande parte da lactose utilizada, essa solução representa um avanço estratégico rumo à autossuficiência e à valorização de tecnologias nacionais”, considera a pesquisadora.

Contribuindo para a inovação

Lorena Armando lembra que entrou na pesquisa a convite de um colega do curso, que já trabalhava com o grupo no desenvolvimento de produtos com teor reduzido de lactose. Ao entrar para a equipe, alguns resultados do projeto já haviam sido alcançados e a então aluna passou a colaborar com o tratamento dos dados obtidos e o planejamento de novas etapas experimentais e atividades complementares, além de elaborar uma cartilha informativa para a divulgação dos resultados, voltada ao público em geral.

“A partir desse convite, passei a integrar a equipe e, ao realizar uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema, percebi sua grande relevância social e ambiental. Além disso, o projeto representava uma oportunidade concreta de contribuir com uma solução inovadora para um problema real da indústria láctea. Também me chamou atenção a possibilidade de aplicar, na prática, diversos conceitos teóricos aprendidos ao longo do curso, o que tornou a experiência ainda mais enriquecedora e motivadora”, contou Lorena, que após se formar, permaneceu fazendo mestrado e doutorado no PEP/Unit, onde desenvolve uma pesquisa sobre a determinação da solubilidade de gás carbônico (CO2) em água utilizando espectroscopia no infravermelho próximo.  

Ela acredita que estes caminhos foram abertos a partir dos conhecimentos e experiências que adquiriu durante o projeto que participou na graduação. “A iniciação científica foi uma experiência transformadora. Abriu horizontes acadêmicos e profissionais muito além da sala de aula, proporcionando aprendizado prático, domínio de novas técnicas, contato com profissionais experientes e um entendimento mais profundo sobre gestão e inovação em projetos de pesquisa. E a Unit foi fundamental na minha formação, oferecendo infraestrutura adequada, orientação qualificada, apoio logístico e financeiro através dos projetos de Iniciação Científica e colaboração com importantes centros de pesquisa como o ITP, o que proporcionou crescimento profissional e pessoal”, concluiu a doutoranda.

 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit

 

As soluções desenvolvidas na pesquisa atendem a demandas da indústria de produção de leite, ampliando suas possibilidades de mercado (Divulgação/Seagri-SE)