Obras de Rosa Faria estão em exposição permanente no Memorial de Sergipe

O espaço exclusivo reúne mais de 5 mil trabalhos da artista sergipana, incluindo pratos, louças e paineis de azulejo que retratam paisagens, pessoas e fatos que marcaram a história e a identidade do nosso estado

Publiciado em 07/07/2025 as 08:54

Uma das artistas que melhor expressaram e cultivaram a sergipanidade tem um espaço dedicado exclusivamente para a preservação de sua memória e de suas obras. Trata-se da Coleção Rosa Faria, uma exposição permanente que está aberta ao público no Memorial de Sergipe Professor Jouberto Uchôa, na Orla de Atalaia. Ela reúne as mais de 5 mil obras, entre quadros, gravuras, louças, azulejos e fotografias, que foram produzidas ao longo dos mais de 50 anos de carreira da artista plástica Rosa Moreira Faria (1917-1997). Sergipana de Capela, ela dedicou toda a sua vida à educação e a cultura, usando pratos, louças, azulejos e o seu “pincel do tempo”, como ela mesmo definia, para gravar as mais lindas paisagens e histórias das terras e das gentes da nossa terra.  

Todo este material foi reunido ao longo de 30 anos no “Museu de Arte e História Rosa Faria”, que ela fundou em março de 1968 na Praça Olímpio Campos e manteve apenas com recursos próprios. Após a morte da artista, em 1997, todas as obras ali mantidas foram incorporadas ao acervo artístico da Universidade Tiradentes (Unit), após tratativas da família com o reitor e professor Jouberto Uchôa de Mendonça, amigo e admirador de longa data. Desde então, o material faz parte do Memorial de Sergipe, que ao ser reaberto em sua nova sede, dedicou o espaço de sua Pinacoteca como um núcleo expositivo central.

“O espaço foi concebido para apresentar ao público sua biografia e sua produção artística, permitindo uma imersão na História de Sergipe. A ambientação convida à reflexão sobre Rosa como mulher, artista e intelectual que dedicou sua vida à registrar a história do nosso estado em suas louças e azulejos”, descreve a museóloga Sayonara Viana, diretora do Memorial de Sergipe, que define a exposição permanente como “uma excelente oportunidade para conhecer mais sobre a arte sergipana e, em especial, sobre o legado de Rosa Faria, que continua a inspirar gerações”.

Em destaque, estão as centenas de louças e pratos de cerâmica e porcelana que ela produziu ao longo da vida. São obras que retratam cenas de Aracaju e das cidades do interior sergipano, como engenhos, ruas e prédios históricos. “Rosa Faria retratava com frequência cenas da vida cotidiana sergipana, paisagens do interior, manifestações populares e referências religiosas, a partir da própria vivência e da observação de regiões de Sergipe. Não se trata apenas da estética, mas da narrativa que essas obras constroem sobre o tempo, a memória e a identidade”, acrescenta Sayonara, lembrando que Rosa se destacou por seu domínio da pintura em louça e azulejo, com traços delicados, riqueza de cores, registros históricos e um uso expressivo das cores e formas. 

Também estão expostos os paineis de suas coleções e o pequeno forno a lenha que ela usava para fazer o acabamento das suas obras. Os mais célebres são os da série  “Sergipe Passo a Passo pela sua História”, composta por 122 paineis de cerâmica sobre fatos e personalidades que marcaram a história de Sergipe e do Brasil.  Nestas obras, ela não apenas reproduzia as paisagens e os retratos das pessoas, mas também escrevia textos concisos, porém detalhados, com as informações e descrições sobre o que foi pintado. Sua obra representa uma justaposição entre o físico e o onírico, uma expressão poética da realidade vivida e imaginada. Ela soube traduzir com sensibilidade a identidade e a memória do povo sergipano, conectando sua arte às raízes culturais e históricas do estado”, define a diretora do Memorial. 

Quem foi Rosa Faria

Rosa Faria nasceu em 28 de abril de 1917 e tomou gosto desde criança pela pintura e pelas artes, inspirando-se no pai, artista plástico bastante conhecido em Capela, e na avó materna, uma professora de ascendência portuguesa. Estudou o Magistério e passou um tempo trabalhando como professora em povoados da cidade natal, antes de se mudar para Aracaju, em 1946. Ao longo da década de 1950, Rosa fez cursos de especialização em Psicologia, Extensão Universitária e Artes aplicadas à Educação, passando por instituições como Departamento Nacional de Aprendizagem Industrial, no Rio de Janeiro, e a antiga Faculdade Católica de Filosofia, em Aracaju. 

Além do magistério e do trabalho como artista, ela também foi telegrafista dos Correios, taquígrafa, poeta, escritora, pesquisadora e jornalista. E sua galeria de arte, foi bastante frequentada por professores, estudantes, intelectuais e todo o público interessado em história e cultura sergipana, também foi palco para celebrações cívicas da cidade e do estado, em suas datas oficiais. “Rosa Faria dedicou toda a sua vida a preservar a memória do Estado. Essa pessoa, que era de uma situação econômica e financeira pequena, deixou e renunciou aos prazeres para que a história de Sergipe ficasse registrada e marcada por esse monumento que nós temos aqui”, destacou o professor Uchôa, quando a Unit assumiu o acervo do museu. 

Pelo seu trabalho dedicado à educação e à cultura, a artista recebeu uma série de homenagens em vida, como o título de Cidadã Aracajuana (da Câmara Municipal de Aracaju), a Medalha de Honra ao Mérito da Prefeitura de Aracaju e a Ordem do Mérito Serigy (do governo do Estado). Rosa Faria morreu em 1º de maio de 1997, poucos dias depois de seu aniversário. O seu último desejo ficou bastante conhecido, por se referir à duas grandes dedicações de sua vida: “Eu quero morrer ocupando minhas mãos. Em uma delas, levarei o terço que é a minha profissão de fé; na outra, levo o pincel, meu eterno e inseparável companheiro, e, lá de cima, eu ainda quero pintar”.

Emancipação

Além da exposição permanente da Coleção Rosa Faria, o Memorial de Sergipe promove nesta quarta-feira, 9, em seu auditório, um evento especial em homenagem aos 205 anos da Emancipação Política de Sergipe. às 10h, o escritor Robervan Santana fará a palestra “Sergipe nos tempos dos Felipes”. Em seguida, às 10h30, a diretora do Arquivo Público Estadual de Sergipe (Apes), Sayonara Santana, falará sobre o tema “A voz dos documentos:o Arquivo Público como testemunha da Emancipação Política de Sergipe. 

A programação será encerrada com uma visita guiada à sala “Caminhos para a República”, um espaço do memorial que é dedicado ao estudo da história política local, com ênfase nos governantes de Sergipe desde 1820 até os dias contemporâneos. Nela estão expostos símbolos do poder, vídeos informativos e os acervos pessoais dos ex-governadores Lourival Baptista (1915-2013) e Paulo Barreto de Menezes (1925-2016), além dos bustos em homenagem a Augusto Franco (1912-2003), João Alves Filho (1941-2020) e Marcelo Déda (1960-2013). 

Serviço:

O Memorial de Sergipe funciona de terça a sábado, das 10h às 16h. Os ingressos para a visitação podem ser adquiridos no site https://ingressosmemorialdesergipe.com.br/, custando R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (estudantes e professores da rede privada, estudantes do Ensino Superior e pessoas a partir de 60 anos). O acesso é gratuito para crianças de até 6 anos, estudantes e professores da rede pública, militares, PCDs, museólogos e guias de turismo. 

Grupos escolares e instituições podem agendar visitas mediadas, através do telefone (79) 3218-2312, do whatsapp (79) 98108-1866 ou do e-mail atendimento@memorialdesergipe.com.br

 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit