Resíduo líquido da mandioca pode ser usado na produção de biogás
Possibilidade foi estudada em uma tese de doutorado defendida na Unit por uma pesquisadora que atua no ITP; a autora também fez intercâmbio em um laboratório canadense dedicado a estudos sobre biocombustíveis
Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), da Universidade Tiradentes (Unit), apontou que a manipueira, um resíduo líquido da mandioca, pode ser fonte para produção de biogás. O estudo foi tema da tese de doutorado defendida no PEP/Unit pela pesquisadora Larissa Renata Santos Andrade, que atua no Laboratório de Engenharia de Bioprocessos (LEB) do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). A pesquisa avaliou o estímulo dessa produção através da utilização de nanoplacas de dióxido de titânio (TiO2) suportadas em Luffa Cylindrica (conhecida como bucha vegetal) durante a digestão anaeróbia da manipueira.
Com a orientação dos professores-doutores Luiz Fernando Romanholo Ferreira e Ranyere Lucena de Souza, o trabalho faz parte da linha de pesquisa “Uso e transformação dos recursos agrícolas” e apresentou os principais bioprodutos gerados a partir de resíduos do processamento da mandioca, destacando o potencial de bioconversão de seu resíduo líquido (manipueira) em biogás.
De acordo com a pesquisadora, a tese apresenta uma rota de reaproveitamento da manipueira através da produção de biogás, utilizando-a como substrato e o lodo de esgoto como fonte de microrganismos da digestão anaeróbia. “Nesse tratamento biológico, microrganismos degradam a matéria orgânica na ausência de oxigênio, produzindo biogás e digestato”, diz ela, acrescentando que a pesquisa contribuiu para o avanço das tecnologias de produção de biogás, otimizando o processo de digestão anaeróbia da manipueira.
Ainda de acordo com Larissa, o biogás é composto majoritariamente por metano e dióxido de carbono, e quando purificado, pode ser utilizado como fonte de energia, calor e combustível, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. “A produção desse biocombustível pode gerar uma fonte adicional de renda para agricultores, contribuir com a redução de custos com energia em indústrias de farinha e fécula, além de mitigar o impacto ambiental causado pela manipueira. O incremento da produção de biogás irá estimular a autossuficiência energética e a descarbonização da cadeia produtiva de mandioca”, afirma.
O estudo do doutorado se desdobrou a partir de uma dissertação de mestrado que a autora defendeu também no PEP/Unit, em 2019, sobre a “Estabilização de pH da manipueira utilizando conchas de ostra e degradação fotocatalítica do cianeto sob luz visível para produção de biogás”.
Estágio no Canadá
Em paralelo aos trabalhos da tese de doutorado na Unit, a pesquisadora do ITP participou de uma importante atividade de intercâmbio no exterior, que aprofundou seus conhecimentos na área de fontes alternativas de energia. Entre junho de 2022 e abril de 2023, ela fez um estágio de pesquisas no Laboratório de Tecnologias da Biomassa (LTB) da Universidade de Sherbrooke, em Sherbrooke, no Canadá. Considerado uma referência mundial em estudos e desenvolvimentos de tecnologias voltadas à transição energética, o LTB é mantido há pouco mais de 10 anos pela universidade em parceria com indústrias locais da província canadense de Québec, concentrando-se na produção de biocombustíveis, a fim de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Estes trabalhos são realizados em apoio aos objetivos do “Plano para uma Economia Verde 2030”, lançado pelo governo provincial de Québec.
Durante o estágio, Larissa trabalhou no projeto “Detoxificação de Hidrolisados para Produção de Bioetanol”, no qual diferentes tratamentos foram aplicados em hidrolisados de resíduos agroindustriais locais a fim de reduzir o teor de inibidores que afetam o rendimento da produção do etanol de segunda geração (E2G). “Esse trabalho me permitiu vivenciar a pesquisa sendo aplicada em contextos industriais, demonstrando na prática a viabilidade da produção de biogás a partir de resíduos de diferentes processos produtivos. Além disso, essa vivência me aproximou das mais recentes tecnologias aplicadas à pesquisa de biocombustíveis”, diz ela.
Ela explica ainda que escolheu estagiar no Canadá por causa do forte compromisso do país com a sustentabilidade e a transição energética, através de fortes investimentos públicos e privados em temas e estratégias voltadas à preservação do meio ambiente, à busca por fontes sustentáveis de energia e à redução dos efeitos do aquecimento global. Outros pontos que mais lhe chamaram a atenção foram as belezas naturais, a segurança e o intercâmbio cultural, que atraem pessoas de diferentes nacionalidades.
“Eu pude expandir meu conhecimento teórico e prático, ter acesso a novos equipamentos e novas tecnologias do mercado de biocombustíveis. Além disso, essa vivência me proporcionou a troca de experiências com profissionais de diferentes nacionalidades e ampliação da minha rede de contatos”, acrescentou a pesquisadora, que atualmente é bolsista de pós-doutorado do projeto “Processamento Integral da Biomassa do Licuri para Fortalecimento da Economia Circular no Semiárido”, no LEB/ITP.
Autor: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit
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