Biomédica brasileira relaciona molécula à obesidade em pesquisa inédita

Publiciado em 16/06/2017 as 09:12

"Se o corpo não inflamar, ele também não engorda?", foi com essa dúvida em mente que a biomédica Angela Castoldi iniciou sua pesquisa de doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Castoldi descobriu que a molécula dectina-1, antes conhecida em infecções por fungos, está relacionada à obesidade. A demonstração da relação entre molécula e doença é inédita. A pesquisa recebeu o prêmio Tese Destaque USP 2016 na categoria ciências biológicas e foi publicada na revista científica Cell Reports.

O sucesso da pesquisa foi resultado de várias tentativas e erros e da inquietação da biomédica. A relação entre obesidade e inflamação já é conhecida no meio científico desde os anos 2000, quando pesquisadores observaram que, na gordura de camundongos obesos havia aumento do processo inflamatório, ligado à proteína MyD88, que desencadeia várias doenças, como diabetes, câncer e doenças vasculares.

A explicação é que o tecido adiposo, onde o corpo armazena gordura, tem um limite e pode inflamar se a pessoa engordar demais. Essa é uma reação do sistema imunológico para conter o excesso de gordura que escapa das células. Mas o processo pode ter um efeito dominó e inflamar também as células de gordura e, depois disso, o corpo todo, causando doenças.

Partindo dessas informações, a hipótese inicial da pesquisa de Castoldi era de que, com a inibição da MyD88, fabricada em quase todo o organismo, o desenvolvimento da obesidade e da inflamação seria bloqueada. A biomédica iniciou os testes em camundongos, mas os resultados não foram como esperado.

Nos testes, foram usados os camundongos selvagens e camundongos sem a proteína MyD88, denominados MyD88 nocautes. Os animais foram alimentados por três meses com uma dieta rica em gordura (45%). No entanto, os camundongos MyD88 nocautes ganharam muito mais peso comparados aos selvagens - resultado contrário ao previsto.

 

*Folha de Pernambuco