HU comemora realização da 100ª cirurgia bariátrica

Publiciado em 09/06/2017 as 14:12

“A expectativa é simplesmente melhorar a minha saúde”. Com essa assertiva e um sorriso ansioso no rosto, a paciente Patrícia Fontes aguardava na última segunda-feira, 5, as últimas checagens médicas antes da sua cirurgia. E um detalhe tornou a intervenção motivo de comemoração especial: essa foi a 100a cirurgia bariátrica realizada pelo Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS). O procedimento é o marco de um projeto pioneiro e único em Sergipe, que há dez anos recupera a qualidade de vida de pacientes com diferentes graus de obesidade.

A cirurgia de Patrícia foi realizada durante toda a manhã da terça-feira, 6, e concluída pela equipe médica algumas horas depois, no início da tarde. Segundo o médico-cirurgião responsável pela intervenção, especialista em cirurgia bariátrica, Antonio Junior, “tudo correu como previsto. O procedimento aconteceu sem nenhuma anormalidade, e ela está passando muito bem. A técnica que utilizamos no HU é a mais moderna e segura”, explicou.

Comemoração

Na tarde desta quinta, 9, a enfermeira e chefe da Divisão de Gestão do Cuidado do HU-UFS, Ana Paula Vasconcelos, promoveu uma celebração para comemorar os dez anos do programa de cirurgia bariátrica. No evento, estiveram presentes os membros da equipe multidisciplinar e alguns dos pacientes que se submeteram à intervenção.

Ao abrir a comemoração, Ana Paula, representando a superintendente do HU-UFS, Angela Silva, destacou a abrangência de tudo que foi realizado na última década. “Fizemos a 100a cirurgia bariátrica, e isso representa muito para nós. Foram muito mais que apenas cem procedimentos: cada um dos pacientes que atendemos tem uma história única com o hospital”, relatou.

A enfermeira Andreia Rabelo, coordenadora do protocolo de obesidade do Ambulatório do HU-UFS, brindou os presentes com um resumo da abordagem do serviço. “Acredito que o programa foi um marco na própria história do SUS [Sistema Único de Saúde]. Quando decidimos iniciar os procedimentos, em 2007, ainda não havia oferta no serviço público de saúde”, acrescentou.

Durante o evento, foram entregues certificados para homenagear os membros da equipe. Um dos prestigiados foi o cirurgião Antonio Junior, que também realizou a primeira cirurgia bariátrica no HU-UFS, em 2007. “Trata-se de um trabalho de persistência, atendendo a parcela mais carente da população. É gratificante saber que obtivemos sucesso”, disse.

A primeira paciente da cirurgia bariátrica, Maria do Carmo, esteve presente na solenidade. “Aqui eu realizei um sonho de muitos anos. Cheguei sem caminhar direito, cheia de problemas de saúde”, contou. Dona Maria do Carmo foi operada em 23 de junho de 2007, véspera de São João, e mantém um acompanhamento permanente por parte da equipe do HU-UFS até hoje.

Como funciona a cirurgia

Cada vez há um maior número de estudos que constatam os benefícios da cirurgia bariátrica, tipo de intervenção com a qual se busca reduzir o peso nos pacientes com obesidade. Como explica a enfermeira Andreia Rabelo, “o programa, instituído pelo Ministério da Saúde, precisa ter o envolvimento de uma equipe multidisciplinar”. Além da endocrinologia, o paciente é avaliado pela psicologia, cardiologia, pneumologia, nutrição e qualquer especialidade que se faça necessária no caso concreto.

O procedimento transforma a anatomia do trato gastrointestinal, podendo ocasionar mudanças no metabolismo da gordura. Um dos efeitos mais esperados é o de que o paciente aumente a sua sensação de saciedade ao fazer as refeições, reduzindo a vontade de comer frequente e desregradamente.

É importante conscientizar a sociedade de que nem todo mundo é candidato à cirurgia bariátrica. A enfermeira Andreia aponta algumas características obrigatórias para que o obeso seja indicado ao procedimento pela equipe multidisciplinar do HU-UFS: “O paciente precisa ter índice de massa corpórea (IMC) igual ou maior a 35kg/m² com comorbidades [a obesidade mais outra doença a ela associada] ou acima de 40kg/m² sem comorbidades. É importante que ele também não seja dependente de outras pessoas, do ponto de vista psicológico ou psiquiátrico”, detalhou.

Tipos de cirurgia

Atualmente, existem duas técnicas consolidadas para a cirurgia bariátrica: o by-pass e o sleeve. O cirurgião Antonio Junior esclarece a diferença entre elas, levando em consideração o perfil do paciente. “Basicamente, direciona-se a pessoa a um dos tipos de cirurgia de acordo com os seus hábitos alimentares”, sintetiza.

Na técnica do sleeve, também chamada de gastrectomia vertical, uma parte considerável do estômago é retirada, transformando-o numa espécie de tubo. “Foi a técnica utilizada na cirurgia da Patrícia. É uma redução do estômago, e adequa-se àquelas pessoas que gostam de comer em grande quantidade”, justifica.

Para aquelas pessoas que gostam de comer em inúmeras ocasiões ao longo do dia, ainda que não ingiram grandes quantidades de cada vez, recomenda-se a técnica do by-pass. “É o popular costume de ‘beliscar’. Geralmente, o paciente gosta muito de doces e outros alimentos pouco saudáveis”, agregou o cirurgião. Nesse procedimento, conhecido igualmente por “cirurgia de Fobi-Capella”, são feitos dois cortes no estômago para a criação de uma nova área digestiva menor, desconectando o resto do órgão sem a necessidade de removê-lo. “Além disso, fazemos um corte no intestino delgado, emendando-o à recém-separada parcela do estômago. A comida, que antes percorria um longo caminho digestivo, segue mais rápido à metade do intestino, o que reduz drasticamente a absorção do alimento”, completa.

Avanços

Um dos avanços mais emblemáticos na história da cirurgia bariátrica tem sido o acompanhamento do paciente por uma equipe multidisciplinar. O HU-UFS, alinhado aos melhores hospitais do mundo, adota esse protocolo desde 2007, quando foi realizada a primeira intervenção no hospital. “O modelo antigo, em que muitas vezes participavam apenas duas ou três especialidades médicas, mostrou-se insuficiente com o passar do tempo. Antes de chegar ao consultório do cirurgião, o paciente deve obter o aval do nutricionista, do endocrinologista, do psicólogo, e de outros tantos profissionais”, garante o médico.

A cirurgia bariátrica por videolaparoscopia é outro avanço relevante, já que se tem mostrado procedimento mais seguro e menos invasivo. “Somos um dos poucos hospitais universitários no Brasil que realizam todas as intervenções bariátricas por meio de vídeo. Não há mais a necessidade de grande incisão para abrir a pessoa”, resume.

Acompanhamento pós-cirúrgico

O HU-UFS tem especial cuidado com a assistência aos operados após a cirurgia bariátrica. “Depois de realizado o procedimento, os pacientes continuam vindo ao ambulatório e são acompanhados por toda a equipe multidisciplinar, da endocrinologia à nutrição. A cirurgia é o meio, não o fim”, destaca Andreia. O acompanhamento psicológico também é mantido, já que a mudança comportamental representa uma das bases para o emagrecimento ideal.

Centro de referência e excelência

O HU-UFS é o único hospital público em Sergipe que realiza cirurgia bariátrica. “Os candidatos ao procedimento muitas vezes são do interior, e tentamos que os vários atendimentos com os especialistas ocorram no mesmo dia. Isso otimiza o nosso trabalho e estimula o comparecimento dos pacientes”, relata a enfermeira Andreia.

Em regra, o paciente vem encaminhado de uma Unidade Básica de Saúde da prefeitura direcionado ao programa de combate à obesidade, no qual inicia um tratamento para emagrecer. Quando a equipe de saúde detecta a dificuldade para a perda do peso, começa o processo de avaliação do paciente a fim de tentar enquadrá-lo nos critérios pré-cirúrgicos.

O HU-UFS encontra-se entre os melhores hospitais do Brasil para a realização de cirurgia bariátrica. Além da equipe experiente e comprometida, o hospital conta com equipamentos de alta qualidade, sendo possível aplicar o que há de mais moderno em tecnologia. “De 2007 para cá, trabalhamos e evoluímos muito. Vencemos as dificuldades e estabelecemos um programa que nos enche de orgulho”, classifica Antonio Junior. Segundo o cirurgião, os cem procedimentos realizados repercutem também na pesquisa acadêmica, uma vez que os dados obtidos proporcionam conhecimento avançado do impacto positivo na vida dos pacientes. “Hoje sabemos que, para além da perda de peso, o paciente pode melhorar ou até mesmo se curar de doenças pregressas, como diabetes e hipertensão arterial”, salientou.

De acordo com a superintendente do HU-UFS, Angela Silva, os investimentos no programa foram sempre constantes. “Chegamos à excelência devido ao cuidado que tivemos com cada momento desse processo. Adquirimos, com esforço, a melhor tecnologia ao nosso alcance. Acima de tudo, a equipe tem liberdade para trabalhar e inovar”, pontua.