OS RATOS DE TEMER, por Gilvan Manoel

Publiciado em 22/05/2017 as 09:51

“A montanha pariu um rato”. Esta frase proclamada pelo presidente Michel Temer após a divulgação da gravação de sua conversa com o dono da Friboi, dando aval para diversos crimes, enterrou de vez o governo iniciado através de um golpe que há um ano afastou a presidente eleita Dilma Rousseff. Hoje, somente os ratos da política brasileira ainda manifestam qualquer esperança nesse governo.

É o caso do deputado federal André Moura (PSC), líder do governo Temer no Congresso Nacional. André repete com orgulho a frase de Temer após a divulgação da gravação em que autorizava o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba, e endossava a compra de autoridades federais. Ele admite com orgulho que foi um dos aliados que recomendou ao ainda presidente que não renunciasse.

André Moura tem suas razões para defender a corrupção de Temer. De deputado do baixo clero com inúmeros processos na Justiça – de corrupção a tentativa de assassinato – se transformou num parlamentar reconhecido, com livre trânsito no Palácio do Planalto e único político sergipano que conseguia abrir os cofres do governo federal para bancar pequenas obras no Estado. Sua influência foi reconhecida até por um de seus maiores adversários na política local, o governador Jackson Barreto, que nos últimos dias vinha recorrendo a ele para tentar viabilizar algumas obras do Estado, paradas desde o início da crise política que destituiu Dilma Rousseff.

André Moura foi guindado à condição de líder do governo na Câmara por indicação de Eduardo Cunha, e conseguiu sobreviver mesmo com a pressão do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), outro notório rato da política brasileira. O conforto e vaidade exibidos por André entre os seus pares e lideranças políticas e empresariais de Sergipe vão por água abaixo juntamente com Temer.

Na semana passada, antes do novo escândalo, André Moura gravou e exibiu através das redes sociais um vídeo em que jactava-se de ter sido o responsável pela edição da MP em que o presidente Temer autorizava o parcelamento das dívidas dos Estados e municípios com a Previdência Social em 200 meses, com generoso desconto, antiga pauta do movimento municipalista. Na quarta-feira, dia da divulgação da gravação do Friboi, André queria levar Temer e os principais ministros do governo para um jantar com prefeitos sergipanos em Brasília, que acabou se configurando num grande fiasco.

André Moura, no entanto, não é o único derrotado com o escândalo de Temer. O presidente leva com ele também outros líderes da política sergipana, como os senadores Antonio Carlos Valadares (PSB) e Eduardo Amorim (PSDB). Os três eram relacionados como potenciais candidatos ao governo do Estado em 2018. Agora têm que saber se reposicionar no quadro político para não serem tragados pela crise.

Valadares, é bem verdade, é um veterano nessa situação. Já foi adepto da ditadura militar que perdurou no país até o início da década de 1980, aderiu à Nova República criada por Tancredo Neves e afundada por José Sarney, promoveu a intervenção na Prefeitura de Aracaju contra o então prefeito Jackson Barreto em 1987, aderiu ao petismo pela força de Marcelo Déda, apoiou Aécio Neves nas eleições de 2014 quando percebeu que o PT estava desabando, votou no impeachment de Dilma e aderiu a Temer, com sorriso de orelha à orelha e o direito de indicar a presidência da Codevasf, companhia que garante grande influência política nas regiões mais pobres do Nordeste. No sábado, estava se preparando para abandonar o barco presidencial juntamente com o seu partido.

Eduardo Amorim foi eleito pelo PSC e no ano passado fez festa ao se filiar e assumir o controle local do PSDB, com direito a foto ao lado de Aécio Neves, que abonou a sua ficha de filiação. Depois que Aécio foi pego com a boca na botija e afastado do seu mandato por receber R$ 2 milhões em dinheiro vivo, ninguém ouviu uma única palavra do senador em sua defesa, como é bem típico de sua personalidade. André, ao menos, ainda defende o seu presidente.

André, Amorim e Valadares são os grandes derrotados na política local com derrocada de Temer e de Aécio Neves. O deputado federal Laércio Oliveira (SD), empenhado na aprovação de projetos que atacam os direitos dos trabalhadores brasileiros, como a terceirização da mão-de-obra, também entra no grupo.

Mas todos acabam derrotados, principalmente o cidadão, porque a política e a economia nacional estão em estado terminal. Ninguém sabe o que pode ocorrer nos próximos dias.


* Por Gilvan Manoel, Jornal do Dia
Publicada em 20/05/2017