Bolsonaro descobre o drible que tomou de Valdemar em São Paulo

Publiciado em 07/04/2022 as 17:34

O ato público de apoio de sete deputados estaduais do PL-SP ao governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP) envenenou as relações entre dirigentes partidários da base bolsonarista e o Planalto. No epicentro das intrigas e da nova rede de desconfianças está Valdemar Costa Neto, visto por integrantes do palácio e da família do presidente como "pouco confiável eleitoralmente", conforme expressão usada por um deles em conversa recente com um interlocutor.

O primeiro revés para Jair Bolsonaro foi a filiação de Tarcísio Gomes de Freitas, seu candidato ao governo de São Paulo, ao Republicanos. O presidente da República queria muito que ambos tivessem o mesmo número nas urnas, o 22 do PL de Valdemar Costa Neto.

 

O presidente do partido, porém, "cozinhou" Bolsonaro, ainda segundo esse interlocutor, até os últimos momentos da janela partidária e ajudou a vazar na imprensa uma conversa para justificar seu corpo mole: havia resistência na base do PL a Tarcísio por causa da atuação pregressa do ex-ministro da Infraestrutura em um tradicional reduto do PL, a área de transportes.

Em um primeiro momento, esse arranjo também foi interessante para Tarcísio porque, sem o 22, ele não estará automaticamente vinculado a Bolsonaro. O problema é que agora o presidente está em viés de alta nas pesquisas e o PL ameaça abandonar de vez a campanha do ex-ministro da Infraestrutura.

Na terça-feira passada, 5, Bolsonaro teria ficado extremamente incomodado com o ato de apoio dos deputados paulistas a Garcia, principal rival de Tarcísio no primeiro turno. Auxiliares do presidente dizem que ele sentiu-se traído por Valdemar, que desde o início trabalhou nos bastidores para deixar o PL livre para apoiar Garcia. A mesma sensação tomou conta do Republicanos, partido que não está no topo do ranking dos mais agraciados com o Fundo Eleitoral e precisa de uma forte ajuda para alavancar Tarcísio.

Mais do que um caso pontual de traição envolvendo parte da bancada estadual do PL em São Paulo, o episódio é entendido no Planalto e na família como um exemplo do que pode acontecer daqui pra frente em outros estados, especialmente se Bolsonaro não continuar subindo nas pesquisas de intenção de voto.

O Republicanos quer que o presidente da República pressione Valdemar Costa Neto para evitar uma debandada total de apoios em São Paulo. O deputado estadual André do Prado, peça central do motim que culminou no ato público com Garcia, tem procurado outros membros da base bolsonarista no estado em busca de adesão a Garcia. O PL-SP controla postos importantes no governo de Garcia, candidato à reeleição.

A interlocutores Valdemar Costa Neto costuma dizer em privado que seu acordo com Bolsonaro era dar a legenda para o presidente concorrer à reeleição, o que ele cumpriu, sem nenhum compromisso mais formal nos estados. Essa versão é rebatida pelos assessores do presidente da República: como "prova", eles lembram que Eduardo Bolsonaro se filiou ao PL-SP para buscar a reeleição para a Câmara dos Deputados.

O evento de apoio a Garcia foi realizado em Suzano (SP). Estiveram presentes também deputados federais, prefeitos e vereadores do PL no estado.

 
 
 
Do UOL