Só faltou nos dizer que morreram, diz mulher de tripulante de submarino

Publiciado em 23/11/2017 as 18:04

Após serem informados nesta quinta-feira (23) pela Marinha argentina de que houve uma explosão antes do submarino ARA San Juan desaparecer, os familiares dos tripulantes se revoltaram e disseram ser impossível que alguém tenha sobrevivido.

"Não disseram a palavra 'mortos', mas o que se pode entender?" disse Itatí Leguizamón, esposa de Germán Oscar Suárez, um dos 44 tripulantes do submarino que segue desaparecido. "Não disseram que estão mortos, mas é a suposição lógica".

"Nos dizem apenas que estão a 3.000 metros, não falam mais nada. São uns desgraçados, uns manipuladores", disse ela, se referindo aos militares, em uma entrevista coletiva improvisada em frente a Base Naval de Mar del Plata, onde estão os familiares.

Segundo ela, o ARA San Juan já passou por problemas em 2014 quando não conseguia emergir da água. "Os mandaram navegar em uma merda", afirmou ela.
Logo após serem informados sobre a explosão, os familiares impediram que o resto do comunicado fosse lido pelo porta-voz da Marinha e começaram a quebrar a sala onde estavam.

Imagens do canal de TV argentino "Todo Noticias" mostram muitos familiares deixando o local chorando. Alguns são contidos por militares, enquanto uma mulher se joga no chão. Ambulâncias foram enviadas para atender os familiares.

"Mataram o meu irmão, filhos da puta. Mataram o meu irmão porque o fizeram navegar num pedaço de arame", gritou, sem se identificar, um parente que saía do local. "O mataram, mataram meu filho", gritava ao lado o pai de um dos tripulantes.

DESAPARECIMENTO

O submarino argentino ARA San Juan, com 44 tripulantes, está desaparecido desde o último dia 15. A embarcação estava em um exercício de vigilância na zona econômica exclusiva marítima argentina a cerca de 400 km a leste de Puerto Madryn, na Patagônia (sul do país). Ele se dirigia de volta à sua base em Mar del Plata, ao norte, quando as comunicações foram interrompidas.

O San Juan, de propulsão que combina motores a diesel (para uso na superfície) e elétrico (quando submerso), é uma arma de patrulha e ataque com torpedos.

Ele é um dos três submarinos à disposição de Buenos Aires. Ele faz parte da classe TR-1700, construída pela Alemanha a pedido da Argentina. Dois dos seis barcos desse modelo foram entregues, mas o programa não foi adiante. A embarcação irmã do San Juan, o Santa Cruz, está em atividade.

O San Juan foi completado em 1985, e passou por uma longa revisão para lhe dar mais 30 anos de vida útil que acabou em 2013. A Marinha argentina, como suas Forças Armadas de forma geral, passam por um processo de degradação acelerada há muitos anos. Possui 11 navios principais de superfície, 3 submarinos, 16 embarcações de patrulha costeira, entre outros.

A circunstância evoca uma tragédia ocorrida no ano 2000, quando o submarino nuclear russo Kursk sofreu uma explosão no seu compartimento de armas e afundou no mar de Barents -os 118 tripulantes morreram, muitos por asfixia.