Eleição para presidente do Chile terá segundo turno

Publiciado em 20/11/2017 as 04:22


O ex-presidente Sebastián Piñera liderava neste domingo o resultado da eleição presidencial no Chile para suceder a socialista Michelle Bachelet com 36,67% dos votos, insuficientes para evitar o segundo turno com o candidato da situação Alejandro Guillier, que ficou em segundo lugar.

Com 81,75% dos votos apurados, a grande surpresa foi o resultado obtido pela candidata Beatriz Sánchez, da Frente Ampla (esquerda radical), que aparece com 20,34% dos votos em terceiro lugar, a apenas dois pontos de Guillier, candidato da Nova Mayoría, que obteve 22,64%.

Além do resultado inferior ao esperado de Piñera, o candidato do Chile Vamos (direita), José Antonio Kast, que reivindica o legado da ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990), obteve 7,88% dos votos.

Atrás dele aparecem a candidata da Democracia Cristã Carolina Goic, com 5,91% e Marcos Enríquez-Ominami (esquerda) com 5,68%. Este resultado "reconfigura completamente a paisagem política chilena", disse à AFP René Jara, analista da Universidade de Santiago.

Os votos obtidos por Sánchez dão um "poder negociador muito forte para o segundo turno", disse o analista. Embora até agora a extrema esquerda tenha hesitado em apoiar Guillier, agora "estará obrigada a fazer porque se não fizer será a responsável pela volta de Piñera" ao poder, opina.

Erro nas pesquisas
Cerca de 14,3 milhões de cidadãos foram convocados às urnas para votar. Oito candidatos presidenciais, entre eles seis de centro-esquerda, desejavam suceder a presidente socialista Michelle Bachelet a partir del 11 de março.

A equipe de campanha de Piñera de minimiza este resultado. "A distância entre Sebastián Piñera e quem o segue, Alejandro Guillier, é similar ou equivalente à distância que no ano 2009 teve com o ex-presidente (Eduardo) Frei", com o qual também teve 14 pontos de diferença, disse Ernesto Silva, do comando do ex-presidente.

"Nos dias anteriores à eleição nos havíamos imposto duas metas centrais: a primeira era conseguir passar ao segundo turno e a segunda, ter uma distância de pelo menos 10 pontos", assegurou Silva.

Direita debilitada
Para o analista Kenneth Bunker, "a direita chega fraca ao segundo turno. Agora tudo se trata de negociações entre Guillier, a Frente Ampla e Marcos Henríquez-Ominami".

Sobre as eleições deste domingo, sem incidentes registrados, pairou o fantasma da baixa participação em um país que é campeão em abstenção na América Latina, já que o voto não é obrigatório.

Ainda não há dados sobre a participação, mas alguns jornais apontam um percentual em torno de 43-44%, o que explicaria as surpresas vindas das urnas. Por esse motivo, houve um apelo para que os chilenos fossem às urnas, começando pelo o da presidente. 

"É importante que o compareça (à votação), que exerça seu direito cidadão e que vote por quem sinta que o representa no que deseja para o Chile", disse Bachelet.

Plebiscito sobre Bachelet
Assim como no Peru, na Argentina e no Brasil, o Chile parece passar por uma guinada à direita. 

Muitos consideram que esses comícios são de certo modo um plebiscito sobre a gestão da própria Bachelet, que já entregou em 2010 o poder a Piñera, rompendo a hegemonia de centro-esquerda desde a recuperação da democracia em 1990 depois de 17 anos da ditadura militar de Augusto Pinochet.

No entanto, nem todos acham que, em caso de vitória, Piñera vá cumprir sua promessa de revisar a bateria de reformas promovidas por Bachelet, em particular a tributária, a trabalhista e a lei do aborto terapêutico, que, junto com a gratuidade da educação superior, são algumas das mais emblemáticas do último mandato da socialista.

Além disso, os chilenos também estão convocados a renovar grande parte do Congresso com a introdução de uma nova lei eleitoral que põe fim ao sistema binominal herdado do regime Pinochet, substituído por um proporcional que visa a melhorar a representatividade.

Os cálculos eleitorais indicam que a direita aumentará sua sua representação no Congresso em detrimento da centro-esquerda, mas um eventual governo de Piñera não terá maioria em nenhuma das duas câmaras