Ocupe a Praça resgata a ancestralidade no mês da Consciência Negra

Publiciado em 14/11/2019 as 08:43
Em uma noite de resgate às ancestralidades, a Prefeitura de Aracaju, através da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), trouxe à praça General Valadão, no Centro da capital sergipana, significativas personalidades para uma imersão no passado, por meio de tradições que envolvem o sagrado e o feminino. Nesta quarta-feira, 13, a edição especial do mês da Consciência Negra apresentou a expressão de Chiquinho do Além Mar, Dona Nadir da Mussuca, Nary Kariri-Xocó e Héloa.
 
“Uma remissão às ancestralidades nos remete a  nossa identidade. Identidade a partir da arte. E é exatamente uma das maiores perspectivas do Ocupe a Praça. No mês da Consciência Negra, buscamos fazer essa referência e incentivar a reflexão sobre o que somos, em que momento estamos e sobre a construção do nosso modo de vida. Também aproveitamos para questionar a forma como lidamos com as diferenças em um lugar tão significativo, o marco zero da capital”, enfatiza o presidente da Funcaju, Cássio Murilo.
 
O lançamento do livro “Diversidade Rima com Igualdade”, do poeta sergipano Chiquinho do Além Mar, abriu a noite com a literatura de cordel. Com cerca de 20 anos de carreira, apresentando temáticas de história de Sergipe e de utilidade pública, baseadas em pesquisas, Chiquinho também realiza um projeto pedagógico em escolas da capital e leva a cultura do cordel para outros estados do Brasil. “Esse material do livro é sobre a igualdade racial e apresenta a importância do negro em todas as vertentes e repudia o preconceito, através de uma linguagem leve e bem típica do cordel. Espero que a sociedade goste e acolha. O Ocupe a Praça foi o momento ideal para o lançamento, por estar com uma temática voltada para a diversidade e pluralidade”, destacou Chiquinho, que distribuiu fotos e autógrafos durante todo o evento.
 
Em mais um debate do Liquidifica Diálogos, a temática levou à reflexões sobre as dificuldades e preconceitos enfrentados pelas minorias, destacando as suas tradições e necessidade de afirmação para esta época. Para a coordenadora do Núcleo de Produção Digital (NPD) Orlando Vieira, unidade da Funcaju, Graziele Ferreira, não tem como contribuir com a autoestima dos sergipanos sem falar das suas raízes.“É preciso enaltecer de onde viemos, que é o nosso bem mais precioso. A temática foi direcionada para chegar aos nossos antepassados e foi o que alcançamos nesta noite”, afirmou Graziele.
 
Dona Nadir da Mussuca, mestra, quilombola e guardiã da herança cultural negra sergipana, participou do Liquida enriquecendo o público com a sua história de resistência. “Tem muita gente que não sabe as suas próprias origens e faço questão de repassar essa cultura. É importante saber o que o negro já enfrentou. Eu sinto muito orgulho de ser uma negra, mulher, que faço parte da cultura sergipana”, garantiu a quilombola. A indígena representante da aldeia Kariri-Xocó, Nary Kariri-Xocó, também participou do debate e exaltou o trabalho de resgate às origens que tem sido realizado por sua comunidade.
 
Antes do lançamento do álbum Opará, que conta com a participação especial do grupo Sabuká Kariri-Xocó, Héloa brincou o público com o videoclipe exclusivo da faixa "Silêncio", composição que assina com Luedji Luna. O primeiro show da sergipana em sua terra natal teve uma simbologia ainda mais especial. “Eu tive o prazer de trazer para Aracaju um pouco do que apresentamos recentemente no auditório do Ibirapuera, em São Paulo. É muito especial, ainda mais por ser no Centro da cidade, tão próximo ao bairro em que eu nasci, o Getúlio Vargas. Além de ser em frente ao rio Sergipe, contando com a força das águas”, ressalta Héloa.
 
A cantora, que atualmente reside em São Paulo, também enfatizou a importância da ocupação dos espaços públicos, de maneira gratuita e democrática. “Fico feliz que o Opará tenha sido convidado para esse momento sobre ancestralidades, já que esse show busca falar da população ribeirinha, indígena, dos povos negros, africanos, que somos todos nós, todo mundo que ocupa esse lugar e carrega essa história”, aponta.
 
A professora de História da rede pública de ensino, Maria Adilma Pinto, foi atraída pela primeira vez ao Ocupe a Praça ao saber a temática abordada: ancestralidades. “Eu já conhecia a luta dos índios Xokó e o tema me chamou a atenção. Eu sou descendente de indígenas e muito dessa história não está registrada nos livros didáticos. Nós não conhecemos a nossa verdadeira história. E é essa a vivência e conhecimento que a população precisa ter. Achei um evento lindo, que valoriza o Centro da cidade à noite”, explica a professora.
 
Opará 
 
 
Opará é o nome do segundo álbum da cantora sergipana Héloa. E celebra um novo momento na vida da artista, um encontro com sua própria natureza e uma nova forma de encarar os desafios. O disco, cujo ritmo das águas e da maré conduz as canções, retrata, a partir deste elemento, as diversas facetas que as águas assumem em seus cursos, fazendo uma analogia com o próprio sentido de existir e fluir.
 
Da AAN