'Coração de Negro - Complexo Escolar Quilombola' pode compor o 2º Guia IAB para a Agenda 2030.

Publiciado em 09/09/2021 as 17:42

“Motivada pelos contatos que tive com as populações e territórios em condição de vulnerabilidade, eu me senti e continuo me sentindo como um instrumento que pode promover fortalecimentos humanos por meio da minha atuação profissional. Quando aprofundei a pesquisa e tive contato direto com a comunidade Quilombola de Sítio Alto, tive várias intuições, sobretudo senti que era ali onde eu gostaria de estar enquanto pessoa/profissional e promover essa intervenção”, relata a arquiteta Vanessa dos Anjos Costa.

Ela é autora do projeto ‘Coração de Negro - Complexo Escolar Quilombola’, que foi seu Trabalho de Conclusão de Curso em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Tiradentes. Vanessa amadureceu a ideia de fazer a pesquisa do seu TCC voltada para Arquitetura Escolar no papel social, em conexão à sua infância na zona rural do município de Simão Dias (SE).

O projeto foi destaque no 27º Congresso Mundial de Arquitetos (UIA2021RIO). Além disso, Vanessa dos Anjos Costa também teve seu projeto entre os três selecionados no 4º Prêmio de TCC de Arquitetura e Urbanismo do CAU/SE, realizado de forma virtual em dezembro de 2020. Já pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, está entre os 51 projetos/planos que devem compor o 2º Guia IAB para a Agenda 2030.

Seu projeto é um Complexo Escolar desenvolvido para a comunidade rural quilombola do Sítio Alto, localizado no município sergipano onde Vanessa nasceu. A pesquisa foi direcionada para os territórios rurais desvalorizados pelas políticas públicas. Assim, o ‘Coração de Negro - Complexo Escolar Quilombola’ realiza atendimento às crianças de 0 a 14 anos, de forma integral, auxiliando no processo de equidade social e fortalecimento das potencialidades da cultura e economia local. 

O conceito do projeto é fundamentado na identidade quilombola e aborda, como referência, o marco territorial e ancestral da árvore Coração de Negro, situada na extremidade da comunidade de Sítio Alto. “A minha inquietude com as problemáticas sociais também é um fator relevante. Acredito que estou nesse processo de entender quais são as maneiras e caminhos que devo traçar para trabalhar em prol de uma aproximação mais humanizada entre a arquitetura e a sociedade. O Coração de Negro não significa apenas um projeto para mim, ele marca o encontro da minha história e ancestralidade com o caminho profissional que escolhi”, expõe a arquiteta.  

 

‘Coração de Negro - Complexo Escolar Quilombola’

A grande proporção do projeto não foi nem imaginada por Vanessa. “A única coisa que realmente planejei, de fato, foi mostrar para a gestão do município e estudarmos em conjunto a possibilidade de execução. Embora não tenha ambicionado essa relevância, eu me sinto grata e cada vez mais fortalecida para dar continuidade aos meus projetos pessoais e profissionais. Penso ainda que não é possível ser uma boa arquiteta se eu não seguir minha intuição e sentir os caminhos que meu coração pede para ir e foi dessa forma que esse trabalho chegou até aqui.  A reflexão que carrego é de que nós somos do tamanho da limitação que colocamos nos nossos sonhos e objetivos, por isso a liberdade para pensar e a busca por conhecimento serão sempre as melhores ferramentas para carregarmos dentro de nós enquanto pessoa/profissional”, pontua Vanessa.

Apesar do reconhecimento do seu trabalho, a arquiteta esclarece que a materialização do projeto ainda não foi possível. Um dos principais fatores é a falta de financiamento. “O Projeto ainda não foi executado, seria um sonho a consolidação e materialização dele. Mesmo depois de 2 anos de formada eu continuo estudando as possibilidades para implantação dele na comunidade. Embora tenha uma Arquitetura mais próxima da coerência do Quilombo de Sítio Alto, sua execução exige recursos financeiros que precisam ser subsidiados. Eu estou no papel de Arquiteta e idealizadora, portanto dependo do interesse do poder público ou de instituições que tenham a pretensão de financiar a proposta”, elucida.

Os obstáculos não a fazem desanimar. Pelo contrário, Vanessa revela que, atualmente, buscar consolidar seus objetivos. “Nós não prevemos o futuro, mas podemos sonhar e planejar ele. Os meus objetivos estão cada vez mais consolidados em meu coração, sempre prefiro me sentir primeiro e depois seguir minha intuição tateando os caminhos que quero ir. A pesquisa com certeza é um deles, faz parte de quem eu sou e as estradas que quero cruzar para realizar meus sonhos, contribuindo com uma sociedade mais justa e equitativa por meio da Arquitetura que carrego em meu olhar”, enfatiza a arquiteta. 

 

Projeto Coração de Negro - Complexo Escolar Quilombola

 

O Coração de Negro é um Complexo Escolar desenvolvido para a comunidade rural quilombola de Sítio Alto, município de Simão Dias, região Centro-sul do Estado de Sergipe, nordeste do Brasil. O projeto pretende atender crianças entre 0 à 14 anos, em período integral, auxiliar no processo de equidade social, e fortalecer as potencialidades da cultura e economias locais. Seu conceito fundamenta-se na valorização da identidade quilombola, trazendo como referência o marco territorial e ancestral da árvore Coração de Negro, situada na extremidade da comunidade. Foram incorporados elementos da sua morfologia orgânica de copa circular, raízes, conexões e nós, atribuindo-a como um elemento forte de valorização cultural, memória e identidade local.Os materiais utilizados são abundantes na região, com o uso de terra nas vedações, estruturas em madeira de reflorestamento e coberturas de piaçava.

As estratégias bioclimáticas são destacadas nos elementos de aberturas em cobogós, janelas em muxarabis, diferenças de níveis e aberturas nos telhados para exaustão do calor interno dos espaços. Essas soluções permitem a ventilação cruzada, iluminação natural e constante em todos os ambientes das edificações. A infraestrutura escolar possui um planejamento que possibilita a redução na produção de lixo, baixo consumo energético e tratamento de esgoto ecológico para o seu pleno funcionamento no pós-obra. Nesse contexto, a sustentabilidade é um valor intrínseco e se destaca no uso equilibrado dos materiais e soluções arquitetônicas. Além de atender a sustentabilidade sociocultural com o fortalecimento da identidade local, educação digna de forma equitativa, valorização do trabalho no campo, e estímulo à agricultura de subsistência familiar, possibilitando ao Sítio Alto se tornar autossuficiente em seu próprio território.

 
 
Assessoria de Imprensa | Unit