Puxado pelo consumo, PIB do 3º tri deve confirmar retomada

Publiciado em 02/12/2019 as 05:14

A melhora mais espraiada da atividade em setembro garantiu crescimento da economia no terceiro trimestre, depois de dois meses com sinais mistos, mas não foi desta vez que a recuperação ganhou fôlego adicional. Segundo a estimativa mediana de 35 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, o Produto Interno Bruto (PIB) subiu 0,4% de julho a setembro em relação aos três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais, mesmo ritmo registrado no segundo trimestre.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga amanhã o resultado das contas nacionais trimestrais. Para a comparação com o trimestre imediatamente anterior, as projeções vão desde alta de 0,2% até 0,9%. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, a expectativa mediana é que a economia brasileira tenha crescido 1%, magnitude idêntica à observada na medição anterior. E esse também é o ritmo esperado para o avanço do PIB na média de 2019.

De acordo com analistas, a atividade vive uma retomada, mas ainda modesta, e desigual entre os setores. Com a redução dos juros e o impulso do crédito, o maior beneficiado é o consumo das famílias, que, neste trimestre, ainda contou com o efeito inicial dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Por isso, mediana de 12 projeções aponta alta de 0,6% do consumo de julho a setembro.

A incipiente reação da construção civil tornou, ainda, a dinâmica dos investimentos um pouco mais favorável. Treze instituições projetam expansão de 1,3% da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e inovação) no período de julho a setembro.

Por outro lado, a combinação de desaceleração da economia global, escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China e recessão mais forte na Argentina derrubou as exportações, que, segundo 12 economistas, recuaram 2,3% do segundo para o terceiro trimestre. Do lado da oferta, o setor mais prejudicado pela piora do ambiente externo foi a indústria, cujo PIB deve ter praticamente andando de lado no período, com alta de 0,1%, calculam 13 analistas.

A agropecuária deve ter mostrado crescimento mais sólido, ao avançar 1,8% nos trimestre encerrado em setembro, de acordo com 13 projeções de especialistas. Como o setor tem peso reduzido no PIB, no entanto, essa alta não foi suficiente para puxar a economia como um todo. Já o setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB brasileiro, deve ter crescido 0,4% na comparação trimestral, também de acordo com a mediana de 13 instituições.

Economistas observam, no entanto, que o terceiro trimestre conta com incerteza adicional nas projeções: é sempre neste período do ano que o IBGE divulga revisões de resultados anteriores das contas nacionais. Desta vez, a base de 2018 será revista.

O terceiro trimestre terminou com comportamento mais positivo da atividade, que cresceu no comércio, nos serviços e até na indústria em setembro, mas mesmo assim ainda não há sinais de recuperação consistente para toda a economia, avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Em seus cálculos, o PIB aumentou 0,5% na passagem do segundo para o terceiro trimestre.

“Não vemos reação em todos os segmentos da economia. Isso tende a acontecer em 2020, com alguma melhora da indústria e o investimento voltando a crescer com concessões”, diz Vale. No trimestre atual, no entanto, o economista trabalha com redução de 0,6% do PIB industrial na comparação com o mesmo intervalo do ano passado.

O setor de transformação tem sido afetado pela crise argentina, que piorou e atingiu em cheio as exportações. Dentro do PIB, as vendas externas de bens e serviços devem ter diminuído 6,3% de julho a setembro, estima a MB. Os serviços, por sua vez, ganharam força no terceiro trimestre, com melhora no comportamento dos ramos de intermediação financeira, do comércio e de atividades imobiliárias, afirma Vale, para quem o PIB do setor cresceu 1,1% no período, sempre na comparação anual.

De acordo com Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter - que também estima expansão de 0,5% do PIB no terceiro trimestre - o grande estímulo à atividade tem sido a queda dos juros e a consequente retomada das concessões de crédito. Outra ajuda veio do estímulo do FGTS: os saques de até R$ 500 de contas ativas e inativas tiveram início em setembro. Por isso, Rafaela avalia que a demanda das famílias voltou a crescer no terceiro trimestre.

Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama e professor de economia do Ibmec, também tem uma visão mais positiva sobre o crescimento, que deve ter ficado em 0,5% nos três meses até setembro. “O juro real muito baixo, indo para quase 1%, faz muita diferença num país com crescimento tão represado”, aponta o economista. Essa queda é importante não só para o consumo, mas também para projetos de investimentos privados, disse, que ficam mais rentáveis.

Rafaela, do Inter, destaca, ainda, que os investimentos também devem ter bom desempenho, em razão da construção civil, cujo PIB avançou 1,9% de abril a junho. “A construção já foi uma surpresa positiva no segundo trimestre e os dados do setor para o terceiro trimestre foram bons, tanto das empresas que já divulgaram resultados, quanto no lançamento e vendas de imóveis e no crédito imobiliário.”

Além da construção, Flávio Serrano, economista-chefe do Haitong, acrescenta que a importação de bens de capital vem em trajetória de alta, o que, em suas estimativas, levou a formação bruta a aumentar 1,1% entre o segundo e o terceiro trimestres.

Na contramão, o setor externo teve impacto negativo sobre a economia, avalia Serrano, uma vez que as exportações devem ter caído 2,5% no trimestre, e as importações subiram 2,2%. Em seus cálculos, as vendas externas, já líquidas das importações, devem retirar 0,1 ponto do PIB no terceiro trimestre, mas a demanda interna dará contribuição positiva de 0,4 ponto ao crescimento.

Do Valor Econômico