Após derrota na Previdência, Guedes manda compensar 'cada bilhão perdido'
O Senado Federal reduziu em R$ 133,2 bilhões o impacto da reforma da Previdência no primeiro turno de votação da proposta. A desidratação inesperada deflagrou uma megaoperação no governo para evitar perdas ainda maiores, numa força-tarefa que mira agora o segundo turno para manter a potência fiscal de R$ 800,3 bilhões.
Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo" apurou, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ordenou que cada bilhão perdido no Senado seja compensado no "pacto federativo", que deve reunir medidas para descentralizar recursos em favor de estados e municípios.
A indicação de Guedes a seus auxiliares de que haverá "troco" da equipe econômica gerou ainda mais animosidade no ambiente já conflagrado do Senado. "Retaliação? Pau que dá em Chico dá em Francisco", avisou o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).
Os senadores já estão insatisfeitos com os rumos da divisão dos recursos do megaleilão de petróleo do pré-sal e querem respaldo do governo para garantir a fatia dos estados. A Câmara articula reduzir a parcela de governadores para turbinar os repasses às prefeituras. Sem uma definição sobre os recursos, um grupo de senadores ameaça travar a votação em segundo turno, que estava prevista para 10 de outubro.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), admitiu que a próxima votação —última etapa antes da promulgação da reforma— pode atrasar. O principal obstáculo é a resistência de senadores em dar aval à chamada quebra de interstício, que permitiria a votação antes do intervalo de cinco sessões exigido pelo regimento. O pano de fundo, porém, é a disputa pelos recursos do leilão.
Alcolumbre disse que ainda busca um entendimento, mas reconheceu que a votação pode ficar para a semana que vai de 14 a 18 de outubro: "Acaba saindo um pouco do calendário da primeira quinzena de outubro, passando para a próxima semana".
No Congresso, a avaliação nos bastidores é que o governo perdeu o controle da situação e colaborou para a postura dos senadores ao incentivar o discurso de "menos Brasília e mais Brasil". A desidratação substancial do texto da reforma foi só um dos sintomas desse quadro.
Abono
O plenário impôs na noite de terça-feira uma derrota ao retirar as mudanças nas regras de pagamento do abono salarial. O texto da Câmara restringia o benefício, no valor de um salário mínimo (R$ 998), a quem recebe até R$ 1.364,43 por mês. Mas o Senado decidiu manter as regras atuais, que garantem o repasse a quem ganha até dois salários mínimos (R$ 1.996). A mudança tirou R$ 76,4 bilhões da reforma.
O revés acendeu o alerta no governo, principalmente diante da lista de destaques que ainda seriam votados nesta quarta-feira (2) e que poderiam tirar outros R$ 476 bilhões.
Técnicos trabalharam desde as primeiras horas da manhã da quarta num amplo material para defender a manutenção de cada ponto, com detalhes de impactos e alertas sobre mudanças de mérito, que levariam a uma nova votação na Câmara e atrasariam o cronograma da reforma.
Já os articuladores políticos do governo se reuniram com lideranças do Senado para "tirar a temperatura" e decidir se havia clima para seguir com a votação ou se era mais apropriado esperar mais uns dias até o governo reorganizar sua base.
Do Estadão Conteúdo
Governo reajusta em 52% auxílio-alimentação de servidores federais
Benefício passará de R$ 658 para R$ 1 mil a partir de maio