FGV vê risco de faltarem R$ 38 bi ao ano para financiamento da casa própria

Publiciado em 17/10/2018 as 05:02


Com a projeção de uma demanda extra de 9 milhões de novos domicílios para segurar o déficit habitacional no Brasil nos próximos dez anos, podem faltar R$ 38 bilhões por ano, em média, para o financiamento da casa própria, aponta estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

A maior parte desse descasamento, R$ 22 bilhões, seria por insuficiência de recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), considerando que o plano plurianual atual do fundo prevê um orçamento de R$ 50 bilhões em média por ano, aponta Ana Maria Castelo, coordenadora de Estudos da Construção Civil do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia).

"Ainda assim, é uma projeção otimista, porque a gente sabe que o FGTS já está com problemas e o plano pode não ser realizado, porque os orçamentos estão acima das fontes", acrescenta.

O estudo foi apresentado em evento da Abrainc (associação de incorporadoras) nesta terça-feira (16). Para suprir a nova demanda habitacional na próxima década, seria necessária uma média anual de recursos para financiamento de R$ 240,7 bilhões, dos quais R$ 72 bilhões provenientes do FGTS, de acordo com a FGV.

"Existe no horizonte escassez de recursos para financiar a demanda do déficit habitacional. Ou ele não vai se reduzir ou pode até aumentar", diz Robson Gonçalves, coordenador da FGV Projetos.

Em 2017, o Brasil tinha um déficit habitacional de 7,8 milhões de domicílios, segundo o estudo. A maior parcela (92%) dessas condições de moradia precárias estava em estratos de famílias com renda de até três salários mínimos.

Um cenário otimista da demanda habitacional para os próximos anos incluiria, de acordo com a FGV, a ascensão de classe de famílias, sobretudo com o crescimento daquelas entre três e cinco salários mínimos

Em debate após a apresentação do estudo, Ricardo Carneiro, membro da equipe econômica de Fernando Haddad (PT), disse que as taxas de juros no Brasil são altas e voláteis, o que gera um problema sério para a questão habitacional no país.
A FGV aponta que, para um empréstimo de R$ 202 mil, o aumento da taxa de 6% para 9% retiraria cerca de 4.000 famílias da possibilidade de financiar a casa própria.

Uma das propostas do PT, segundo Carneiro, é criar um orçamento de investimentos plurianual, incluindo, entre outros itens, as destinações ao programa Minha Casa Minha Vida.

Ele afirmou ainda que a proposta da candidatura é entregar uma média de 500 mil habitações do MCMV por ano, privilegiando sobretudo as faixas 1 e 1,5. Para isso, diz, seriam necessários R$ 10,2 bilhões. Representante econômico do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) não esteve presente no evento.