21ª Missa do Cangaço mantém acesas memórias de Lampião e seu bando

Publiciado em 31/07/2018 as 02:53

Na manhã de sábado, 28, foi celebrada a 21ª Missa do Cangaço, solenidade que acontece no Monumento Natural Grota do Angico (Mona) − unidade de conservação gerida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), na divisa dos municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco, Sertão do Estado.

O evento, promovido por familiares de Lampião, em nome de seus netos: Djair Ferreira, Gleuse Ferreira, Isa Ferreira e Vera Ferreira, e da filha de Lampião, Expedita Cardoso, além do apoio logístico da Semarh e de ouros parceiros, também marca o 80º aniversário da morte de Virgulino Ferreira da Silva, popularmente conhecido como “Lampião”, executado em 28 de julho de 1938 na grota, ao lado de sua esposa, Maria Bonita, e de seu bando, depois de emboscada policial.

Na Grota, existe um memorial com cruzes fincadas em rochas, demarcando o local exato em que os corpos dos cangaceiros foram encontrados. A missa já entrou para o calendário de ecoturismo do Estado e visa celebrar e preservar as indissociáveis memórias de Lampião e do Cangaço.

Quem participa, é remetido, involuntariamente, ao dia do massacre, naquele local envolto a ribanceiras, cercado por veredas, chão pedregoso e coberto por catingueiras e macambiras.

Encenação

A missa foi interrompida, por alguns instantes, pelo Grupo de Teatro e Xaxado na Pisada de Lampião, que existe há 21 anos. Vestidos de cangaceiros, eles chegaram sorrateiros ribanceira abaixo, acordando a caatinga com o estampido do bacamarte, promovendo excitação do público - formado por pesquisadores, historiadores e turistas de várias partes. Na ocasião, o grupo encenou o momento em que Lampião e seu bando foram atocaiados pelas tropas alagoanas, só que, desta vez, ao contrário: foram os cangaceiros que surpreenderam a todos.

No meio do altar improvisado, eles recitaram poesias ao estilo “repente”, saudando o Rei do Cangaço, a força dos nordestinos e a vida sofrida do sertanejo, além de exaltar um estilo musical que pode ser traduzido como a trilha sonora da caatinga: o Xaxado.

“É sempre emocionante. A cada ano que passa são muitas pessoas presentes e, para nós, é gratificante, porque resgatamos essas lembranças. Vários grupos já surgiram a partir dos nossos e vai valorizando cada vez mais a cultura nordestina. Nosso grupo tem uma função social. Por onde a gente passa, recebe muitos aplausos e isso é gratificante”, destaca ator do grupo de Xaxado na Pisada de Lampião, Beto Patriota.

Preservação da cultura e da caatinga

Para o gestor da Semarh, Olivier Chagas, o evento une história nordestina e a preservação do bioma caatinga. “A missa é o resgate da cultura nordestina da cultura do Cangaço, da nossa história. E o melhor, dentro da nossa unidade de conservação. Então, é um casamento perfeito: preservação da caatinga, por meio de ação do Estado de Sergipe, e também a preservação do Cangaço, que tem tudo a ver com a nossa tradição”, avaliou.

O deputado federal João Daniel também participou da missa. “É muito importante, porque há uma celebração que encontra gente de todas as regiões do Brasil, estudiosos, intelectuais, artistas, familiares dos cangaceiros. Um povo que não preserva a sua história é um povo que não constrói uma nação soberana. O Cangaço tem uma grande história no Brasil e no mundo. Por isso estamos aqui para participar da celebração como uma forma de valorizar e reconhecer a importância de Lampião e do Cangaço”, destacou.

Expedita Cardoso, de 86 anos, é a única filha de Lampião. Para ela, a missa emociona, mas também é um dia de festa. “Ele foi querido e continua sendo. Todo mundo está alegre e satisfeito e ninguém quer perder esse evento. As pessoas se interessam por ele e gostam de participar da missa, que, na verdade, é uma festa”, disse.

Uma das netas de Lampião, Vera Ferreira, disse que o evento é do povo. “Nosso interesse é manter a história viva, para que as pessoas a conheçam mais. É como se a gente tivesse lançado sementes. Não fazemos isso sozinhos. Tem toda uma equipe, a exemplo de Manuel Foguete, o Sebrae, o pessoal do Carrancas, o professor Joaquim, do colégio purificação, e os meninos do Mona. Agradeço a todos”.

O ator mirim Pedro Popof, fã da cultura nordestina e do cangaço, aprovou o que viu. “É importante para o resgate da cultura nordestina, para as pessoas saberem mais o que é cangaço e mais sobre Lampião especificamente”.

James Cardoso, vigilante do Mona e guia turístico da unidade, disse que o evento é histórico e também ambiental. “Fala do Cangaço, que é evolucionário, e também porque está dentro de uma reserva que foi criada para preservar esse lugar. Durante a trilha, até a Grota, a gente sempre orienta as pessoas a jogarem o lixo no lixo, porque isso preserva a trilha. Esse evento cresce a cada ano e conta a revolução de Lampião, que para uns é bandido e para outros é herói”.

Morte de Lampião

O bando de Lampião acampou na fazenda Angicos, Sertão de Sergipe, no dia 27 de julho de 1938. A área era considerada por Virgulino como de extrema segurança, longe das vistas das forças policiais. Mas na manhã do dia seguinte, os cangaceiros foram vítimas de uma emboscada, organizada por soldados do estado vizinho, Alagoas, sob a batuta do tenente João Bezerra. Mas o êxito dos soldados se dá porque o bando de Lampião foi traído. De acordo com pesquisadores, o combate durou somente 10 minutos.

Grota do Angico

O Monumento Natural Grota do Angico foi criado pelo governo do Estado há 11 anos. Desde a sua criação, a unidade é administrada pela Semarh e recebe visitantes de várias partes do Brasil e do exterior, para a realização de estudos e pesquisas científicas. Além de abrigar o local da história do Cangaço, representa a única unidade de conservação estadual do bioma caatinga.