Pesquisadores criam startups a partir de produtos desenvolvidos em estudos

Uma membrana para tratar hemorragias e novos componentes para cosméticos, a partir de produtos naturais, são desenvolvidos em pesquisas realizadas na Unit e levam pesquisadores a criarem startups para preparar a colocação dos produtos no mercado

Publiciado em 24/08/2024 as 11:00
Unit/ Divulgação

A interação entre ciência, educação e empreendedorismo vem colaborando com o surgimento de novas possibilidades de soluções para problemas reais, bem como de formação de novas cadeias produtivas para a geração de emprego e renda. Um exemplo disso vem surgindo no âmbito da Universidade Tiradentes (Unit), onde pesquisadores dos cursos de mestrado e doutorado dos Programas de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) e em Biotecnologia Industrial (PBI) começaram a formar startups a partir de pesquisas que desenvolveram produtos inovadores na área de farmácia e cosméticos.


Estas novas empresas surgem no âmbito do Ecossistema Tiradentes, lançado recentemente e formado pela Unit junto com o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) e Tiradentes Innovation Center (TIC), com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de Sergipe através da educação e da inovação. Os alunos do PBI e do PSA (ambos da Unit) desenvolveram seus estudos com o suporte de laboratórios do ITP e, a partir dos resultados deles, começaram a criar e estruturar as suas startups no TIC, que é um centro de inovação voltado para o desenvolvimento e experimentação de soluções através da inovação aberta.


Em uma delas, a Quick aid K, está sendo criada uma membrana hemostática a partir de materiais naturais e bioabsorvíveis, que pode ser usada para acelerar o estancamento de hemorragias e ferimentos. “Ela vai ser utilizada para acelerar o processo de coagulação, absorvendo e estancando o processo hemorrágico mais rapidamente. Ela pode ser usada tanto em hemorragias simples quanto em cirurgias”, explica a farmacêutica e pesquisadora Mônica Batista de Almeida, responsável pelo projeto, acrescentando que, em uma fase inicial, a membrana será utilizada em tratamentos veterinários, para animais domésticos. Em seguida, conforme os resultados dos testes e as autorizações das autoridades reguladoras, uma outra versão será disponibilizada para pacientes humanos.


As pesquisas de desenvolvimento da membrana e as atividades da startup têm a participação de Victoria Louise Santana e Erika Santos Lisboa, alunas de mestrado e doutorado no PBI. Elas contam que já vinham estudando a criação do produto ao longo do mestrado, mas também lançaram mão de vários conhecimentos e aprendizados que vinham obtendo desde o tempo que passaram pela iniciação científica, ainda no curso de Farmácia. “Todo o conhecimento que a gente adquiriu nesse processo fez com que a gente chegasse até aqui de construir o nosso produto e o protótipo ficar o mais ideal possível. A gente ver que o nosso produto vai solucionar a dor de alguém, seja de um pet ou de um humano, traz para a gente um alívio, reconhecimento e felicidade. Isso é um estímulo muito grande que a ciência proporciona juntamente com o empreendedorismo”, dizem elas.


A segunda startup é a Standlyc Company, que desenvolve um novo sistema conservante a base de extratos e óleos vegetais para uso em cosméticos. Eles podem substituir os insumos à base de parabenos, compostos químicos mais utilizados atualmente na indústria de cosméticos para coibir fungos e bactérias, mas que vêm tendo o seu uso proibido ou restringido em diversos países, por causa da relação com doenças e distúrbios hormonais. “Nas aulas de farmacotécnica, onde a gente aprende a fazer formulações, uma coisa que me incomodava muito era que a gente ainda precisava usar parabenos. Então, eu comecei a fazer pesquisa nas bases de dados sobre as possibilidades de substituição. “O mercado procura por esses produtos e que o processo de produção deles seja barato, assim como o produto final”, conta Robertta Jussara Santana, aluna de mestrado do PBI/Unit e criadora da startup, que trabalha agora nos testes de validação do produto.


A substituição de componentes também é o objetivo da New Eyebrow, criada por Adilson Allef Santana, que está terminando o seu doutorado no PSA/Unit. Ele estuda o uso de produtos vegetais como matéria-prima de coloração capilar em produtos de pigmentação de pele e de sobrancelhas. “Por vezes, as pessoas acabam utilizando de produtos que não são destinados para esse fim. No caso específico da sobrancelha, usam tintas capilares adaptadas, que têm alta taxa de toxicidade. O nosso produto quer substituir essas tintas e eliminar estes riscos”, explica. Atualmente, o processo está no depósito de patentes e na regulamentação junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No entanto, segundo Allef, já há empresas interessadas nos resultados destes estudos e nos futuros produtos da startup.


Ciência que vira renda


A criação e estruturação de uma startup, chamada de “incubação”, é um processo no qual a ela é organizada e montada formalmente para funcionar como uma empresa, através da formalização burocrática junto aos órgãos competentes, da definição de estratégias e do planejamento técnico-financeiro para a viabilização do negócio. E todo esse processo acontece com o apoio do Tiradentes Innovation Center, que conta para esta função com mentores e orientadores bastante experientes no mercado e na própria academia.


“Aqui, o TIC vai dar suporte para desenvolver um modelo de negócio, o business. Como esse produto vai chegar no mercado, qual a proposta de valor, por quanto vai ser vendido, como captar mais recursos para ter terminado o desenvolvimento… É uma parte administrativa que o pesquisador não desenvolve com tanta profundidade quanto a pesquisa em si. Então, ele precisa desse braço para o negócio crescer”, explica uma das mentoras, a professora Patrícia Severino, que também atua como docente do PBI/Unit e pesquisadora do ITP.


As três startups surgidas na Unit estão entre os 46 projetos que foram contemplados, em 2023, com o incentivo financeiro do Programa Centelha, uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com as fundações estaduais de amparo à pesquisa (incluindo a Fapitec/SE), voltado à criação de negócios e empresas com base em pesquisas e inovações.


Patrícia destaca que esse movimento faz parte de um processo de transformação do ensino superior, que passa a envolver cada vez mais o empreendedorismo como forma de alcançar a sociedade e o mercado de trabalho com os profissionais de alta qualificação formados nas universidades. É o que ela define com a frase “Transformar paper em PIB”. “Ou seja: é transformar a ciência em algo que vá para o consumidor. Quando a gente essas startups criarem uma uma nota fiscal, a gente fecha esse ciclo e faz com que todos tenham uma contribuição e que a sociedade seja beneficiada pelo que é feito dentro da universidade”, conclui a professora.


Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit