Irrigante cria sistema agroflorestal em perímetro irrigado da Cohidro em Canindé

Publiciado em 27/07/2020 as 16:57

Nos últimos três anos, foram introduzidas unidades experimentais bem-sucedidas para produção de frutas exóticas e leite no Perímetro Irrigado Califórnia, em Canindé de São Francisco. E há dois anos, em um lote da família naquele perímetro, a bióloga Danielle Caroline utiliza a infraestrutura de irrigação do governo do Estado para a implantação de um sistema agroflorestal (SAF) adequado ao semiárido sergipano. Nas redes sociais, ela divulga seu progresso, para incentivar outros projetos à troca de conhecimentos. A técnica produz alimentos sem usar agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, a partir de um ambiente biologicamente equilibrado, e se adequa à implantação de áreas de preservação permanente (APP) ou de reserva legal (ARL), em que o agricultor gera renda produzindo hortaliças em curto prazo; frutas, em médio; e madeira, em longo prazo.

“Nosso intuito é mesmo divulgar a técnica para o maior número de pessoas”, afirma Danielle, por ter criado o perfil @sitio.umbuzeiro no Instagram. Neste, são diárias as atualizações mostrando o desenvolvimento das plantas que produzem alimentos ou são ‘adubos verdes’, devolvendo componentes essenciais ao solo. Porém, a trajetória da jovem agricultora não começa no campo. “Apesar dos meus pais terem este sítio há muito tempo, eu nunca estive muito perto da agricultura. Só vim morar aqui depois de concluir a faculdade. Formei em Biologia pela UFS em 2010, depois fiz mestrado em Entomologia. Foi quando conheci a Agrofloresta por vídeos, na internet, e fui fazer um curso com Henrique Sousa, na Fazenda Ouro Fino [Jaguaquara-BA], em 2017. De lá para cá, venho implementando o sistema. Muita coisa fiz sozinha; em outras, tive ajuda do meu pai”, conta a jovem. 

Além do conhecimento adquirido no meio acadêmico e cursos livres, a participação em atividades em grupo também ajudou Danielle Caroline a implantar o SAF no lote dos pais. “Fiz mais um curso no início de 2018 e participei de alguns mutirões, para a implantação de outra área. Depois um grupo de pessoas fez um mutirão aqui também. Tenho recebido ajuda de outras pessoas e tudo é fruto da busca por conhecimento; pelo dia-a-dia, vivenciando na prática o que é trabalhar com agroflorestal; e pegando os conhecimentos que meu pai tem. Ele é técnico agrícola aposentado, trabalhou na Emdagro (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe) por muitos anos e tem o sítio há 16 anos. Aqui moramos os três: eu; meu pai [José dos Santos] e minha mãe [Maria Luiza de Jesus Santos]”, detalha.

Segundo o diretor de Irrigação de Desenvolvimento Agrícola da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), João Fonseca, os perímetros irrigados administrados pela empresa pública são ambientes propícios para a inovação do campo. “Em cooperação com a Embrapa Semiárido (Petrolina-PE), introduzimos com sucesso três campos experimentais de videiras e pereiras, em que os produtores já vendem uva pra produzir vinho e partem para a industrialização de suco. Noutro lote, implantamos um projeto piloto do sistema Balde Cheio de produção de leite, com base na experiência adquirida no perímetro irrigado Jabiberi, em Tobias Barreto. A expectativa da Cohidro é que essas áreas, e também a experiência com o SAF, influenciem outros produtores rurais de todo o estado a se espelharem na produção de alimentos, geração de renda e iniciativas de preservação ambiental”, afirma.  

No Sítio Umbuzeiro, Danielle criou dois lotes de SAF, que somam uma área de  0,1 há - pequena só no tamanho. “A gente já plantou de tudo. Atualmente, a gente tem mamão em produção, banana, árvores frutíferas, como a graviola e a pinha, que estão crescendo.  Já colhemos açafrão, milho e fava. É muita coisa que dá para colocar nesse tanto de área e tive excedente para vender. Minha mãe vende na feira e ela sempre leva coisa aqui da área do SAF. Esse momento agora é de fazer podas, é um momento de renovação. Fiz o manejo do sistema e agora é hora de plantar novamente [milho, feijão, abóbora]. Mesmo assim, tem uma produção”, destaca. A agricultora quer que o seu SAF seja referência agroecológica para o semiárido sergipano. Além de compartilhar os saberes para além das redes sociais, ela planeja abrir sua agrofloresta para visitas técnicas e aplicação de cursos.

 

Da ASN