Pessoas em situação de rua são alfabetizadas através de projeto da Assistência Social

Publiciado em 06/09/2018 as 09:37

"Conhecimento nunca é demais". Essa é uma frase bastante usada quando o assunto é aprender. Ela tem feito muito sentido para os usuários do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop), unidade da Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju, que participam do projeto ‘Olhares', desenvolvido pela equipe de Pedagogia e Educação Social da instituição. Atualmente, cerca de 30 pessoas estão matriculadas nas aulas, que tem como principal objetivo estimular, de forma dinâmica, a aprendizagem da leitura e da compreensão textual, bem como despertar o interesse pelo ingresso no ensino formal de ensino.

Saber como são formadas as palavras, realizar operações como soma e subtração são consideradas tarefas fáceis pela maior parte da população. Mas essa não é a realidade de todos os indivíduos da sociedade brasileira. Para muitas pessoas, a distância entre a sua casa e a escola vai muito além de metros ou quilômetros. Quando falamos de pessoas em situação de rua, os fatores determinantes que interferem na ida à escola se tornam ainda mais agravantes.

É por entender essa análise que o Centro Pop criou o projeto ‘Olhares'. Para o coordenador da unidade da Assistência Social, Edilberto Souza, o projeto traz muito mais do que noções de alfabetização: envolve vida, valores e as emoções dos usuários, aliando a educação ao processo de construção do caráter social de cada pessoa participante. "Quando sentamos para escolher o nome do projeto não foi por acaso. Queríamos um nome que representasse muito bem o verdadeiro significado. Estamos buscando enxergar o nosso usuário de uma maneira diferente. Estamos fazendo com que a pessoa que participa se perceba enquanto sujeito de direitos, enquanto um indivíduo que possui a sua cidadania", conta.

Edilberto explica que o ‘Olhares' tem sido um excelente instrumento de incentivo e de transformação. "É uma iniciativa que permite que os indivíduos possam observar outras possibilidades além da educação formal. Quando se trabalha empreendedorismo, criatividade, ações coletivas, trabalhos em grupo estamos permitindo que os participantes tenham uma gama de alternativas para que os mesmos entendam há uma necessidade de estar sempre em busca do conhecimento. Isso faz com que eles se encontrem, busquem oportunidade e, claro, acaba tornando-os pessoas mais preparadas para enfrentar os desafios da vida", complementa.

A pedagoga responsável, Albertina Carvalho Pereira, explica que a iniciativa surgiu a partir de solicitações dos próprios usuários do Centro Pop. "Essa é uma demanda dos próprios usuários. Eles entenderam o quanto o aprendizado é importante para as suas vidas. Da forma como estamos trabalhando, promovendo dinâmicas e aulas contextualizadas com assuntos em geral, estamos fazendo com que os nossos usuários despertem um interesse ainda maior pelo aprendizado".

Segundo a pedagoga, são trabalhadas questões que envolvam o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, e a metodologia tem ajudado a inserir os alunos no âmbito familiar novamente. "Enxergamos que, em algum momento de suas vidas, essas pessoas ficaram estabilizadas. Por isso, estão em uma situação de alta vulnerabilidade. Através dessa observação, nós promovemos atividades que ajudam essas pessoas a seguirem os seus caminhos. Temos percebido que vem dando certo. Muitos, inclusive, através das nossas conversas, incentivos, acabam voltando para as suas famílias", ressalta.

Expandindo os seus conhecimentos

Joelma Santos de França estudou até a terceira série do ensino fundamental. Ela se considera como semi-analfabeta e compreende o projeto como uma oportunidade para expandir os seus conhecimentos. "Eu leio muito pouco, entendo algumas coisas, mas estou aqui para melhorar o que já conheço e aprender ainda mais. Essa é uma chance para aqueles que não se sentem muito bem em ir à escola. No Centro Pop eles nos acolhem super bem, nos ensinam direitinho. Tem sido muito bom. Pretendo voltar outras vezes", conta.