Semarh realiza passeio ciclístico em Capela alusivo à Semana da Mata Atlântica

Publiciado em 26/05/2017 as 14:00

Dando continuidade às comemorações alusivas ao Dia da Mata Atlântica (27 de maio), a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), por meio da Superintendência de Área Protegidas, Biodiversidade e Florestas (SBF), realizou na manhã desta sexta-feira, 26, no município de Capela, o Eco-Ciclo, um passeio ciclístico envolvendo mais de 200 estudantes de escolas públicas.

A largada teve início na Praça do Carmo, passando pelas ruas da cidade em direção à Unidade de Conservação, Refúgio de Vida Silvestre (RVS) Mata do Junco — o segundo maior remanescente de Mata Atlântica do Estado, com uma área total de 894,76 hectares. O local não foi escolhido à toa. Lá, ocorreram palestras proferidas por técnicos da Semarh, da Codevasf e por professores ambientalistas, visando mostrar a importância de se conhecer, preservar e sentir a unidade, possibilitando a sua conservação e maior aproveitamento para as gerações futuras.

É justamente na questão do aproveitamento que a mata passa a ter um quilate diferencial. Isso porque ela possui 35 nascentes catalogadas, as quais formam o riacho Lagartixo, principal fonte de abastecimento de água da cidade. Além disso, a floresta abriga um morador que está em extinção: o macaco guigó, como explica o superintendente da SBF, Elísio Marinho.

“Queremos que a comunidade se apodere da mata, tendo a responsabilidade de conservação conjunta. A pedido dos ambientalistas do município, organizamos esse passeio com os alunos. Com isso, fazemos com que eles tenham mais conhecimento sobre a unidade e tenham mais responsabilidade. A Mata do Junco tem mais de 200 monografias e 100 dissertações, é uma área que está sendo bem utilizada pelas universidades. Acredito que o principal objetivo do evento, além de preservar os recursos hídricos, é preservar o habitat natural do macaco guigó, espécie endêmica no Estado. A gente tem a necessidade de fazer essas ações para preservar”, disse Elísio, ao revelar que a Semarh, em parceria com Chesf, está fazendo a recuperação de 20 hectares da mata. “Já plantamos mais de 14 mil mudas. Estamos recuperando as áreas degradadas que existiam aqui”, completou ele.

Para a coordenadora técnica da Mata do Junco, Maria Augusta Barbosa, o evento é de importância estratégica. “Mobilizamos o conselho gestor da mata e a comunidade, a qual é muito participativa. O objetivo é fazer com que as pessoas que moram aqui sintam a Mata do Junco, e esses eventos contribuem para isso. A missão de sensibilizar as pessoas para que não desmatem e preservem a natureza não é fácil, ela é árdua e cotidiana”.

Segundo o funcionário da Unidade e chefe da Brigada de Incêndio, Marcelo Guigó, um nativo que conhece a floresta como as linhas da palma de sua mão, mostrar a mata para os alunos é plantar a semente do conhecimento e da conscientização. “O evento torna-se um atrativo e impulsiona as pessoas a conhecerem a mata. Há pessoas que nasceram em Capela e não conhecem a Mata do Junco. Acho que o grande desafio é aproximar as pessoas dessa unidade”.

O professor da Universidade Federal de Sergipe, Eduardo Dias, o evento ajuda a preservar o que restou de Mata Atlântica no Estado. “É um dia importante, porque a Mata Atlântica é um dos biomas mais degradados que existem no Brasil e ter esses momentos de lembranças de que ela ainda existe é fundamental. Os jovens, que são uma geração que tem muito a contribuir com a sociedade, precisam ter esse conhecimento para levar adiante”.

A superintendente da Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba, Rosa Cecília, também esteve presente. Natural de Capela, ela reforçou a tese de que é preciso educação ambiental para a preservação do bioma. “Sou professora e sempre falo aos meus alunos sobre isso. Educar é a melhor ferramenta para não desmatar”, pontuou.

Aprendizado

Para Vinícius Guedes, de 13 anos, estudante do 8º ano do Colégio Edézio Vieira de Melo, a ida à Mata do Junco foi proveitosa. “Aprendi bastante. Aqui tem muitos bichos que precisam estar vivos, além de nascentes de rios. A mata é a nossa amiga e precisamos preservá-la”, disse.

Opinião semelhante tem Estefani Carvalho, 15, estudante do 8º ano também do Colégio Edézio. Para ela, a Mata do Junco passou a ser vista com outros olhos. “A água que a gente bebe em casa sai daqui. Então, é melhor preservar a mata, senão faltará. Existe também o macaco guigó, que está ameaçado. Aprendi a preservar esse lugar”, destacou.

Mata do Junco

O Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco foi criado por meio do Decreto 24.944 de 26 de dezembro de 2007. Objetiva proteger vegetação nativa da Mata Atlântica, bioma enquadrado entre os 34 hotspots mundiais, ou seja, ecossistemas com elevada biodiversidade e que sofreram severa destruição, correndo risco iminente de desaparecer.

Registra-se na Mata do Junco, a presença de uma das espécies de primatas mais ameaçadas de extinção do Brasil, o Callicebus coimbrai, conhecido como macaco guigó, espécie de distribuição geográfica restrita às florestas de Mata Atlântica entre o recôncavo baiano e a margem direita do Rio São Francisco, na faixa litorânea dos Estados de Sergipe e Bahia.

Segundo ICMBio/CPB o guigó tem distribuição restrita a 150km² e população estimada em 2.000 indivíduos. É classificado como criticamente em perigo pelo MMA e em perigo pela IUCN.

No plano de manejo do RVS Mata do Junco, em sua caracterização florística, registrou-se a ocorrência de 100 espécies, distribuídas em 74 gêneros e 37 famílias, predominando as famílias Poaceae, Cyperaceae, Myrtaceae, Fabaceae, Asteraceae e Rubiaceae.

Sobre a fauna, foram registradas a ocorrência de 23 espécies de mamíferos, 20 de anfíbios, 18 de répteis, 23 de mamíferos e 134 de aves. Porém, estudo de doutoramento realizado após plano de manejo registrou 128 espécies de aves pertencentes a 41 famílias.

Das espécies identificadas, dez foram classificadas como endêmicas do Brasil e cinco endêmicas da Mata Atlântica, ou seja, a Pyriglena atra, Hemitriccus nidipendulus, Ramphocelus bresilius, Hylophilus poicilotis e Thalurania glaucopis. Três espécies estão em alguma categoria de risco, segundo a IUCN: o beija-flor-de-costas-violeta - Thalurania watertonii (quase ameaçada), olho-de-fogo-rendado - Pyriglena atra (em perigo) e chorozinho-do-papo-preto Herpsilochmus pectoralis (vulnerável).

Além das espécies da flora e fauna encontradas, o RVS protege o principal manancial de abastecimento público da cidade de Capela - o riacho Lagartixo, atributo que reforça a sua importância, enquanto mantenedor de bens e serviços ambientais.