Suspensão de vacina a jovens divide estados e evidencia vacinação desigual

Publiciado em 17/09/2021 as 07:47

O recuo do Ministério da Saúde em relação à vacinação de adolescentes contra a covid-19 evidenciou a diferença no ritmo de vacinação entre estados e municípios do Brasil. A decisão divide os estados —até a noite de ontem, a maioria anunciou que vai ignorar a recomendação da pasta.

Enquanto São Luís (MA) e Macapá (AP) já terminaram de vacinar esse público e o Rio de Janeiro e São Paulo se encontram em estágio avançado, Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), João Pessoa (PB) e Teresina (PI) sequer começaram a imunizar adolescentes sem comorbidades.

 

Na noite da última quarta-feira (15), o Ministério da Saúde recomendou que a vacinação para adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades fosse suspensa. O ministro Marcelo Queiroga atribuiu a decisão a ações de estados e municípios, como vacinação "fora de hora" e erros na aplicação.

Prefeitos e governadores que decidiram continuar com a vacinação dizem contudo ter vacinas em estoque. Para alguns gestores, o anúncio foi "desculpa" para lidar com a falta de doses —o que a Saúde nega.

UOL apurou que, até a noite de ontem, ao menos quatro estados (Alagoas, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul) e o Distrito Federal acataram a decisão da Saúde e anunciaram a interrupção da vacinação para essa faixa etária.

Outros 14 afirmaram que continuarão com o calendário. Eles são: Acre, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.

Enquanto oito estados (Amazonas, Bahia, Mato Grosso, Paraíba, Rio de Janeiro, Rondônia, Sergipe e Tocantins) não anunciaram qualquer decisão.

Doses no estoque

Estados e municípios iniciaram essa vacina [para adolescentes] antes, até no mês de agosto, a vacina que era para começar ontem [quinta-feira]. Como conseguimos coordenar a campanha dessa forma? Marcelo Queiroga, ministro da Saúde

De acordo com determinação anterior da pasta, as vacinas "carimbadas" para o público de 12 a 17 anos sem comorbidades seriam distribuídas a partir da última quinta-feira (15).

Entretanto, com doses em estoque, alguns municípios começaram a vacinar essa faixa etária antes.

São Luís iniciou a campanha em julho e já terminou. Ou seja, para a capital do Maranhão a recomendação da Saúde sequer tem efeito prático.

Já as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro começaram na última semana de agosto e já estão em estágio avançado: 47% e 85% dos adolescentes, respectivamente, já tomaram a primeira dose.

O Paraná reiterou ontem que espera a definição da Saúde para vacinar adolescentes sem comorbidades. A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que não havia começado oficialmente a vacinar essa faixa porque as vacinas "carimbadas" para essa finalidade não haviam sido entregues.

Anvisa rebate Queiroga

O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) consultou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre a medida do Ministério da Saúde.

Em junho, a agência autorizou a aplicação da Pfizer para a população com mais de 12 anos. Até agora, esse é o único imunizante permitido para menores de 18 anos.

Ontem, Queiroga também recomendou que adolescentes não tomem a segunda dose da vacina.

A pasta afirma que houve 1.500 reações não previstas entre os mais de 3,5 milhões de adolescentes vacinados no Brasil.

Mas, em nota divulgada na noite de ontem, a Anvisa afirma que foram 32 casos do tipo registrados no país. A agência ainda diz que "todas as vacinas autorizadas e distribuídas no Brasil estão sendo monitoradas continuamente" para casos adversos.

Queiroga afirmou que a Saúde irá manter a decisão "até ter mais evidências", mas não citou se há novos estudos em curso ou qualquer diálogo com a Anvisa neste âmbito.

Por sua vez, a agência ressalta que "não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada, destacadamente, quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos".

Falta de vacinas nos estados

Na última semana, ao menos seis estados registraram falta de vacina. Entre 27 de agosto e 13 de setembro, a Fiocruz interrompeu a entrega de doses de Astrazeneca/Oxford para o PNI (Plano Nacional de Imunização), retomando na última terça-feira (14).

Ontem, a cidade do Rio de Janeiro anunciou que suspenderá a segunda dose de Coronavac por falta de vacina em estoque. Antes, o município já tinha afirmado que a recomendação do Ministério da Saúde "leva em consideração o momento de escassez de vacinas".

Prefeitura de São Paulo também afirmou que "entende que a restrição imposta pelo governo federal [em relação à vacina de adolescentes] é apenas por questão logística, pois, trata-se de um imunizante eficaz e seguro previamente autorizado".

Queiroga negou que a suspensão tenha acontecido por falta de doses. "Os estados dizem que está faltando Astrazeneca e estão usando Astrazeneca em quem não é para usar. Quando falei em excesso de vacina, tanto tem que estão vacinando quem não deve, iniciando a terceira dose antes do tempo."

Apesar dos últimos registros de falta, a vacina da Pfizer tem chegado ao Brasil com regularidade e, inclusive, vem sendo utilizada para completar o esquema vacinal para aqueles que se vacinaram com Astrazeneca e não encontram o imunizante na data de sua segunda dose.

Nos últimos dias, os índices de mortes e casos estão em queda no país. O consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte, registrou 100.027 novos casos entre 27 de agosto e 1º de setembro. Quinze dias depois, entre 10 e 15 deste mês, foram 57.645 casos.

No mesmo período, a média móvel de mortes ficou em queda por 22 dias e retornou ao nível de estabilidade em 15 de setembro e está em 597.

 

 

Do UOL