Papa afasta dois cardeais de seu círculo de conselheiros por pedofilia

Publiciado em 13/12/2018 as 00:28


O papa Francisco afastou de seu círculo de conselheiros mais próximos o cardeal George Pell, acusado na Austrália de agressões sexuais contra menores, e o chileno Francisco Javier Errázuriz, suspeito de ter escondido os atos de um padre pedófilo no Chile - anunciou o Vaticano nesta quarta-feira (12).

Os dois altos líderes eclesiásticos fazem parte de um conselho de nove cardeais de todos os continentes, chamado C9, que aconselha o Papa Francisco sobre a reforma da administração da Santa Sé.

O papa escreveu aos cardeais que deixarão o conselho para agradecer-lhes "pelo trabalho que realizaram por cinco anos", afirmou o assessor de imprensa do Vaticano, Greg Burke, nesta quarta-feira.

No entanto, este anúncio chega antes de uma cúpula muito aguardada sobre a "proteção de menores", entre 21 e 24 de fevereiro, organizada pelo papa, que contará com a presença dos presidentes das conferências episcopais do mundo todo, de especialistas, mas também de vítimas de abusos sexuais cometidos por clérigos. Um desafio, enquanto alguns bispos daÁsia e da África afirmam que não estão envolvidos em um problema "ocidental".

Os escândalos de abuso sexual, perpetrados ou ocultados pelo clero, levaram a Igreja Católica a uma crise sem precedentes na Europa, Estados Unidos, Chile e Austrália.

"A reunião de fevereiro não resolverá todos os problemas, visto que há diversidade mundial demais na Igreja. O episcopado americano, em pânico, opta por medidas radicais, enquanto os africanos não querem que se imponha nenhuma", resumiu uma fonte próxima aopapa, tentando suavizar as expectativas. 

"A 'omertá' (lei do silêncio) foi nossa cultura durante tempo demais. A reunião de fevereiro deve marcar um novo começo sobre a responsabilidade dos bispos, e inclusive sobre um novo instrumento de controle", descreveu.

Quaisquer que sejam as dificuldades para 'afinar os violinos' de uma Igreja com contrastes, agora se espera que o papaargentino mantenha sua intransigência até a cúpula da Igreja.

O papa afastou Pell temporariamente há 18 meses, para que ele pudesse se defender diante da Justiça australiana. Até agora, o cardeal não retornou a Roma. Nesta quarta-feira, o porta-voz do Vaticano não quis comentar sua situação judicial.

Aumento de despesas

Pell, de 77 anos, permanece oficialmente à frente da Secretaria de Economia criada pelo Papa Francisco para ordenar as finanças da Santa Sé. O mandato de cinco anos termina, a princípio, no final de fevereiro.

Para respeitar a presunção de inocência, o papanão quis, até agora, como alguns consultores pediram, nomear um novo oficial de finanças, embora esta semana um alto funcionário da cúria (o governo do Vaticano) tenha dito que as despesas da Santa Sé estão aumentando de maneira "inaceitável".

Nesta quarta-feira, justamente com motivo de uma reunião do "C9", sem os afastados, o cardeal alemão Reinhard Marx, coordenador de um Conselho para a economia, detalhou que a Santa Sé está em colapso financeiro, sobretudo pelos custos com pessoal, sugerindo lançar mão do recurso da aposentadoria antecipada.

O segundo afastado, o cardeal chileno Francisco Javier Errázuriz, também perdeu seu lugar no C9. No Chile, ele é acusado por vítimas de abuso sexual de ter acobertado os atos de um padrepedófilo, um caso que escandaliza o país.

Alguns observadores apontam que Errázurizaconselhou mal Francisco, levando o papa a defender um cardeal chileno, envolvido no escândalo do abuso sexual, uma defesa que complicou muito a viagem do sumo pontífice ao Chile em janeiro de 2018.

Depois de um encontro no Vaticano com Francisco, o cardeal Errázuriz anunciou em novembro que estava se retirando do C9. "Não é uma renúncia. Eu me despedi no final do período para o qual fui nomeado", declarou o prelado em entrevista a um jornal chileno. O arcebispo emérito de Santiago tem 85 anos. Além disso, outro cardeal, o congolês Laurent Monsengwo, também deixará o conselho.

Ele é uma importante figura da Igreja Católicaafricana que desempenhou um fundamental papel político na República Democrática do Congo, onde acaba de ceder seu posto como arcebispo de Kinshasa, aos 79 anos de idade.