O que é preciso para o Brasil voltar a crescer?
O Brasil encerrou 2017 com um crescimento de apenas 1% no seu Produto Interno Bruto (PIB), um saldo considerado ínfimo após dois anos consecutivos (2015 e 2016) de recessão. Para o setor empresarial, era a hora de comemorar a saída do País da crise e de vislumbrar a retomada da economia. 2018 deveria ser um ano de esperança para os mais de 13 milhões de desempregados que resultaram da fase negativa. No entanto, para que isso pudesse o ocorrer, os diversos setores - que fazem a máquina econômica girar - cobravam do governo federal as tão prometidas reformas, que após a vitória da polêmica lei trabalhista, em vigor desde novembro, eram essenciais para o Brasil voltar a ter competitividade.
Hoje, com os nomes dos candidatos à presidência postos à mesa, a Folha de Pernambuco traz as principais demandas da cadeia produtiva brasileira, que são apontadas pela indústria, comércio, agropecuária, serviços e turismo como ações necessárias e que devem ser tomadas pelo próximo presidente da República. Afinal, o cenário atual é bem diferente do projetado no início do ano. “Estávamos com a expectativa de um crescimento do PIB em torno de 2,8% no primeiro mês do ano, o que foi reduzido para praticamente metade no oitavo mês. A recuperação não tem apresentado a velocidade esperada e isso acaba reduzindo a confiança dos empresários e se transforma em efeito cascata com redução dos investimentos e consequentemente menor ritmo de geração de emprego e renda”, analisa o economista da Fecomércio, Rafael Ramos.
Mestre e professor de economia, Tiago Monteiro vai mais além. De acordo com ele, a instabilidade política dos últimos quatro anos minou a confiança dos investidores na economia e pressionou a produção. “Isso fez com que a demanda, que estava efervescente, começasse a pressionar a inflação - um fantasma que vive assombrando nossa economia há décadas. E a medida adotada para amenizar esse espectro foi a elevação da taxa básica de juros (Selic) para quase o dobro em um intervalo minúsculo - passando dos 7,5% em 2012 para 14,25% em 2015 - estrangulando o consumo, pois o custo do dinheiro estava caro, e a própria produção, pois também depende do valor do dinheiro para produzir mais e de maneira mais competitiva”, argumenta o professor.
E, como os economistas concordam , os desafios para a próxima equipe econômica do País são homéricos e atemporais. “Demandam movimentos, alinhamentos e decisões, práticas cruciais para que haja uma retomada econômica plausível, robusta e contínua, diferentemente do que estamos presenciando nos últimos quatro anos”, diz Monteiro.
Veja as demandas de cada setor:
Indústria
Em temas considerados fatores-chave para a competitividade, o documento traz ideias que a indústria defende para aumentar a produtividade do trabalhador, melhorar o ambiente de negócios, estimular a economia e ampliar a geração de emprego e renda.
Entre as principais, listam-se, em especial, as questões ligadas ao financiamento. De acordo com a entidade, a proposta traz ideias para estimular o desenvolvimento do mercado de debêntures e fortalecer o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a fim de incentivar a oferta de crédito de longo prazo no Brasil.
Além disso, outra necessidade do setor é sanar os gargalos da infraestrutura e ofertar uma logística eficiente, que permita a realização das entregas dos insumos e a distribuição dos produtos finais com segurança e nos prazos adequados. “Precisamos voltar a ter mais previsibilidade e um ambiente de confiança em relação ao futuro”, reforça o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Comércio
Diretamente influenciado pelo consumo, a principal demanda do setor comercial brasileiro é, sem dúvidas, a geração de emprego. “Quando olhamos a taxa de desemprego ela ainda é muito elevada. Aqui em Pernambuco ela atinge aproximadamente 700 mil pessoas no primeiro trimestre de 2018, o que consequentemente influencia em nível de endividamento e de consumo”, reflete o economista da Fecomércio-PE, Rafael Ramos. Neste sentido, nunca foi tão evidente para o setor a importância de que o próximo governo se comprometa com a quase utópica reforma tributária.
A promessa é que se ela for aprovada, vai promover crescimento econômico; neutralidade na competitividade; geração de empregos; aumento de salários; redução da tributação de itens essenciais às famílias mais pobres; fim da guerra fiscal; desburocratização, entre tantos outros benefícios. "Se uma simples ‘reforma tributária’ tem o condão de promover tantos benefícios sociais e econômicos, como se fora um plano de salvação nacional, basta aprová-la para o País viver o melhor dos mundos”, desabafou em recente artigo o presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços e Turismo, Antônio Oliveira Santos.
Agropecuária
Como um dos segmentos mais vulneráveis da cadeia econômica, visto que seus resultados também são influenciados por fatores climáticos, o setor agropecuário foi o maior responsável pelo crescimento de 1% do PIB brasileiro em 2017.
Diante desse fato e de sua relevância para a economia, tem suas necessidades definidas para o próximo gestor federal. “É necessário que se invista em infraestrutura. Afinal, é a logística da nossa produção que torna ou não o negócio competitivo, o que não dá para fazer com transporte refém do modal rodoviário”, desabafa o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe), Pio Guerra.
Turismo e serviços
O setor de serviços apresenta fraco dinamismo e continua alternando entre crescimentos modestos e variações negativas. Encabeçando o setor, o turismo brasileiro carece de uma boa política pública que contribua para o seu crescimento. As ideias defendidas pelos empresários e profissionais de turismo são baseadas em planos para garantir a continuidade dos negócios e, ao mesmo tempo, renovação e inovação constantes.
Com ações coordenadas pela esfera federal junto a governos estaduais e municipais. Entre as principais demandas, listam-se: melhoria da infraestrutura, fortalecimento da imagem do Brasil no exterior e seus diferenciais como destino turístico; apoiar e adotar políticas de taxação inteligentes, que incluem simplificação na tributação e desburocratização para melhorar o ambiente de negócios; buscar mercados internacionais que combinem volume de turistas e gastos altos; apoiar e estimular o desenvolvimento de novos produtos turísticos que tragam melhor experiência ao visitante, entre outras. O setor, inclusive, desenvolveu e entregou aos principais candidatos à presidência um documento com as principais demandas do setor para promover as ações do próximo governo brasileiro rumo ao desenvolvimento sustentável.
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